quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O que é o que é? (1) - Câncer

O que é o que é? (1) - Câncer


São dois, um de cada lado.
Não os vejo. Sinto-os.
Aumentam e diminuem,
Doem um de cada vez.


Um não é bom sinal, o outro é alerta.
Um tem diagnóstico, o outro não tem hermenêutica.
Em um a sintaxe é médica, no outro a semântica é alternativa.
Em um o discurso é a saúde, no outro a proposta é a terapia.

Os dois são fatalísticos e tanatológicos:
Inauguram o zoe eteron só aos que creêm.

Não há resposta na Bíblia. Equívoco achismo.




Interpretação


Nesse poema, descrevi sobre um tipo de doença que acomete muitos seres humanos. É impresionante como o nosso organismo dá sinais constantes sobre a saúde dele. É um resfriado, um cansaço ou mal-estr desconhecidos, dor ou febre e até mesmo sensações alheias à praxe cotidiana. Fora estes, o mais preocupante é a aparição de nódulos. Pequenos caroços em regiões do corpo. Além da comum resposta à infecção, eles podem ser o início de algum tipo de câncer.

Por ser internos, os nódulos não podem ser vistos. Senti-los é a única forma de descrevê-los. O sistema orgânico humano tenta se proteger: anticorpos são colocados em prontidão. Os nódulos desaparecem. Reaparecem. Aumentam. Diminuem. Enfim, são transmorfos. A aparição de dor é mal sinal.

Dois nódulos considerados aqui devem ser explicitados. Um é realmente enfático sobre a presença de algo estranho no organismo. O outro é o tipo de associação e interpretação dada ao nódulo: pecado, comida estragada, resfriado não curado, etc. Seja como for, ambos dóem, fisica e "espiritualmente".

A segunda estrofe é bastante elucidativa. Ela esclarece a respeito da progressão que o nódulo tem no corpo humano:
(1) geralmente iniciam calmos e silenciosos, mas, depois, se tornam agressivos e violentos. Sinal e alerta devem ser tomados com seriedade e responsabilidade pessoal. Para os médicos, o diagnóstico é decisivo para inferir sobre a saúde do paciente (transição que há de "são" para "doente", de cliente para paciente);
(2) deve-se cuidar para não fazer leituras apressadas, tais como ´ah, isso não é nada´, ´você precisa ter fé e com certeza será curado´, entre outras. Sei de algumas narrativas nas quais as pessoas declaram ter se apegado a tudo e a todos quando foram notificados sobre a doença. Lembro-me de algo tal como ´beber babosa cura até câncer´. No momento de desespero, tudo é mágico e se torna esperança. Não há hermenêutica que convence;
(3) Para muitos, todo o procedimento médico representa a manutenção da saúde, na qual a rádio e a quimioterapias são indicadas. Em casos extremamente fatais, os profissionais assistente social, psicólogos, psiquiatras e religiosos são acionados para consolação e conforto. Tanatologia é o estudo da finitude humana, o estágio final da matéria. Eutanásia refere-se aos cuidados com aquele que está para sofrer a tanatos. É nesse sentido que o conceito de vida eterna (zoe eteron) se torna uma realidade para os crentes. Aos cristãos, Cristo é a promessa dessa terapia (cura).

Não se deve preconceituar a declaração ´não há resposta na Bíblia. Equívoco achismo´. Remeto à antiga dialética ´tudo está na Bíblia, nada está na Bíblia´. Comumente, as comunidades pregam ´cura´ (therapeuo) para tudo: unha encravada, dor de cabeça, obesidade, câncer, etc. Julgam a doença separada totalmente dos propósitos divinos. Faz-se necessária a adoção do ministério de cura, biblicamente exegética, através da compaixão, do amor incondicional, da inclusão, do perdão, libertação, etc. Atualmente, as pregações são modas de mercado linguístico e midiáticos sobre os nódulos cancerígenos. Não respeitam os limites da hermenêutica bíblica.

Por fim, sugiro que nossas comunidades atentem para o elevado número de doentes de câncer na sociedade, bem como sejam sábios ao afirmar curas, bem como serem diligentes no tratamento de pacientes terminais, bem como apontar serviços que tornem nossos irmãos e irmãs resilientes, firmes, inabaláveis, constantes no Senhor.