sexta-feira, 29 de março de 2013

Ferir-se para sempre


Acredita-se que a fé cristã consegue revelar os mistérios
Então, eu proponho um questionamento ainda mais sério
Sabe-se que é possível "perdoar" quem comete os adultérios
Mas como fica aquele que a si mesmo deu-se ao necrotério?

A morte fez-se nossa amiga junto com a consciência dos vivos
Ela surgiu em discussões e expulsões, fazendo-nos sair do abrigo
Desde crianças quando não entendíamos a dor aguda do castigo
Aparecia para nós maléfica e batía-nos com sentimentos nocivos

Ela se manifestou na ira das competições entre os seres pueris
Atingiu o corpo com doenças silenciosas. Nem perdoou os juvenis
Afetou a alma com sentimentos caóticos. Das angústias e dores febris
E tocou em tudo que vital na humanidade, curvando-lhe a ferida cerviz

A peste bege graduou-se como marca da aniquilação da vida
E tem sido pelos entorpecentes a redução dos jovens na lida
Não foi a humanidade que perdeu lugar para a morte oferecida
Mas será a posteridade da vida a desabitação na Terra Prometida

Enterramos os mortos para cumprir o ritual do último adeus 
Mas esquecemos de dar sumiço gradual aos vícios da alma. 
A morte inculca a possibilidade do suicídio que acalma
Como ambiguidade do desencanto do amor que leva os seus 

A morte ganhou relevância para que aprendamos a valorizar a vida
Ela veio contrapor-se à magia temporal da energia que conquista 
Dar cabo à vida é ignorar que a morte exige preços pagos à vista
Sofrer não é desejar morrer. É entender que a vida não é fingida

Quando ela chega, separa um a um dos muitos. É fatal
Os que ficam são os vencidos. Não se entende o trivial
As indagações não são respondidas. É segredo divinal
Mas para os que creem, a esperança do reencontro é real 

O poder de pensar por si



Já observou que no mundo da vida, as estruturas são decorrentes da ação humana de pensar? Sim, tudo surge porque cogitamos conhecer das coisas. Vamos ao supermercado para comprar produtos, mas são as etiquetas dos preços, dos valores nutricionais, das embalagens, das cores, enfim de todo um arquétipo que nos faz refletir e tomar a decisão de adquiri-lo. Saímos de uma cidade à outra, munidos da habilidade de dirigir um carro, mas são as placas que nos fazem pensar que sabemos dirigir. Lemos notícias, estórias, bulas, mensagens, tudo o que os sinais gráficos permitem ser decifrados e decodificados, sejam em português ou em alguma língua estrangeira reconhecível, mas é a produção de sentido que nos faz entender o significado dos enunciados. Tudo é feito por causa do ato de pensar.

Na ideologia capitalista norte-americana de consumo, o ato de pensar controla toda a trajetória da ação humana. Empresários, propagandistas, psicólogos e economistas acionam o desenvolvimento de como o ser humano age e reage diante de estímulos. Eles pensam por nós! A associação de som e imagem encanta nossa mente, e a concretização do produto seduz o nosso pensamento. Não desejamos consumir, somos ludibriados a desejar possuir. Não precisamos de carro, somos levados ao sonho de se locomover. Não precisamos estocar, somos conduzidos à imprevisibilidade do caos, da escassez e da privação. Não precisamos poupar, somos fisgados pelo fascínio do lucro rápido. Não precisamos investir, somos direcionados à especulação dos bancos. Não precisamos dizimar, somos desafiados ao medo de sofrer o castigo divino. Não precisamos evangelizar, somos forçados a entender o resgate da criação somente através do envio de mensageiros. Não precisamos de Salvador, somos etnocêntricos pelo único caminho de redenção. Não precisamos nos procriar, somos mal-direcionados na compreensão da sexualidade. Não precisamos ser educados, somos eternos aprendizes no crescimento e desenvolvimento humano. Há, sim, outros que pensam por nós!

Passar um sinal vermelho é perigoso. Esta atitude nos qualifica como infrator, incorrendo, inclusive, na categoria de não ser bom motorista. Ir ao mercado e comprar só o que estava na lista é uma ação rara. Mas sair do padrão dos produtos sempre adquiridos é mais raro ainda! Transgredir é pensar por si. É sofrer as consequências de um ato soberano e autônomo: a liberdade de decidir e direcionar-se por si. É o único poder que temos e que podemos retomar a qualquer momento. Basta não permitir que outros pensem por nós.

Em Teoria Crítica, há o conceito e o estudo do pensamento crítico. Também chamado de autonomia, conscientização, liberdade, crítica, emancipação, politização, etc... Tantos termos para um único ato. Pensar por si é exercer o poder de ser autêntico. Será que somos produto dessa ação de pensar por si, ou somos o resultado do que o mundo da vida quer que sejamos? Somos cidadãos porque queremos ser ou porque nos induzem a ser?

Quero ser mais trágico. Separação é um evento que mexe com todas as estruturas do pensar. Os seres humanos conseguem se adaptar no movimento das separações, mas são inertes para pensar em se separar. Para muitos, separar é não tomar decisões, é deixar o barco correr para ver onde a maré vai parar. Somos nós que tomamos a decisão ou alguém que tomou por nós? Sou eu quem quero casar ou é a sociedade em que vivo que me força a isso? Afinal, como são conduzidos os atos do cogito humano, senão lidar com o ato de se libertar?

A resposta é a seguinte: pensar por si consiste em refletir sobre as causas e consequências da ação humana, tendo sempre a liberdade própria de concordar, aceitar, rejeitar e discordar das triviais assertividades. É, por exemplo, deixar de sofrer e passar a viver. É saber se conduzir quando o imprevisto surge, optando sempre pela vivência – a autonomia do ser.

Pensar por si é colocar o poder da criatividade em ação. Na aprendizagem, deixamos o estágio da imitação e começamos o da criação. Firmamo-nos em sólidos fundamentos de sustentação reflexivas – é quando o ser humano se torna um reflexivo de si mesmo. A criação é o ato de pensar sobre os problemas, resolvendo-os. É por isso que muitos seguem os líderes pentecostais e neopentecostais midiáticos: são incapazes de pensar por si.

Pensar por si é inovar sempre o tradicional. É ir além do conservadorismo, da ortodoxia e do zelo exacerbado. Rigorosidade nas estruturas é a prova de que não há inovação. Liturgias nunca serão arcaicas se forem atualizadas. Hinários nunca serão obsoletos se forem contemporaneizados... "o velho é o espaço para o novo surgir" (ECP). Ignorar o antigo é rejeitar o ato de fazer-se novo. O atual não existe sem o anterior, e o presente é a dinâmica refletida do passado.

Pensar por si é conscientizar-se do ato de revolução. É a ação transformadora do mundo. Não é a economia, nem a política e muito menos a administração que farão revolução na sociedade. É o ato de pensar por si que demonstrará o poder de cada criatura: corpo, alma e espírito em unidade para a reconstrução social. É o sentido da fé que move a incredulidade farisáica.

Pensar por si é identificar-se nos cogitos alheios. É pensar em comunidade, é associar-se aos avanços do grupo, cujos padrões foram o do consenso e o da verdade. Não são ações partidárias que definem a sociedade justa e solidária, mas o que cada criatura pensa por si e se agrupa para mover tais ideais em harmonia.

Os jogos de quebra-cabeça, lógica, passatempo, cálculos etc são exercícios do pensamento crítico. Leitura de poesias também. Não pense por imitação, pense por criação. Pense por si! É por isso que acredito em educação como um ato de pensar por si.

terça-feira, 26 de março de 2013

A coincidência das almas

Ó, figura humana do sorriso cativante,
Que me laçou com o feitiço reinante
Estou aqui a te desejar doravante
Desde ontem quando tocou-me radiante
Quero saber de ti e me dar a conhecer 
Em abraços e afagos até o anoitecer
Em suspiros de encantos no amanhecer
Mensagens para ti sempre hei de escrever
Que tal esperar a oportunidade do Soberano?
Afinal já fomos agraciados pelo encontro do ano
Ao esperar o ônibus para sentarmos no banco
Encostávamo-nos, sim, no trivial solavanco
A magia do desejo é assim: olhar, sentir e agir
Olhamo-nos porque não podíamos disso fugir 
Sentimo-nos estimulados, então, a prosseguir
Agimos discretamente no segredo de cair
Foi na liturgia do despir dos óculos que você me encantou
Vi nitidamente a beleza de ser convidado ao papo que soou
E na alma de nossas palavras, o diálogo mágico nos acordou
E estamos indo à luta para nos descobrir. O interesse despertou
A troca de nomes e telefones é um pequeno ritual 
Logo, logo, pode significar amizade comunal 
Se durar, há de ser mais que estudantil e fraternal
Haverá reciprocidade em revelar-se como casal
Compromisso é mais do que palavra ou um anel 
É sentimento, tipo o do bem e do amargo fel
Estou de pé no chão, ainda que você seja um céu 
Após os encontros necessários, doar-te-ei meu mel

domingo, 24 de março de 2013

Sofrer com maturidade


Sofrer não é consequência de punição aferida 
Mas a reflexão de uma experiência aprendida
Decorrente de uma tremenda situação dolorida
Uma pode até ser física, outra somente sentida

Há vários mecanismos de aprendizagem
Na vida, é, sim, preciso, muita coragem
Enfrentar o sofrimento exige sondagem
A verdade é a amiga, sem malandragem

Sofro porque sinto


Que pena não ter dado certo entre nós!
Eu estava feliz, muito feliz. Sabia?
Com você, eu desatava os nós
Nunca perdia e nem cansava a voz
Ao teu lado, descansava quando dormia
Tinha espasmos de total alegria 
Por que, então, tenho que ficar só?
Vou morrer, sim, e virarei pó
Nem estátua serei como a de Ló
Desaparecerei em meio a correria
Pois eternizarei na nostalgia
Aterrado, precisaria de uma pá
A distância adia a ida para o além
E a saudade será o pecado de cá
Pois você continuará sendo alguém
Não tenho mais movimentos, estou sem pé
No leito de morte, só resta a fé
Não sofro pelo término da relação
Mas pelo inferno da dolorosa emoção

Pecar é errar o alvo


Não haverá próxima vez
Porque nem no último mês
Respeitou-se nenhuma das leis
Que moviam o amor que se fez

Cupido só para os romancistas
Em idílios de grandes novelistas
Em palcos de peritos artistas
Ludibriavam-me com falsas conquistas

Não quero ser flechado. Quero ser a flecha
Acertar o teu coração e abri-lo à brecha
Para só te desejar o bem e sair à festa
Mas você não quer mais nada. Beijo na testa

Não se deve atirar sem saber o alvo
É como querer mostrar-se no palco
Não tem repertório e se acha salvo
É até confiante, mas sem calço

Alma sedenta



Bebo água,
Mas não mata a sede
Apenas deságua
A mágoa na rede
E esgota.

Bebo água,
Mas não me alivia a fadiga
Apenas aumenta a torcida
Dos contras à minha vida
Desfalecida.

Bebo água,
Mas não me satisfaz
Apenas não tem mais gaz
Fazendo-me sentir fulgaz
Rapaz.

Bebo água
Para ser consciente
Apenas na mente
Imagino-te sorridente
E ardente.

Jardineiro sem canteiro


No meu jardim, cultivei um canteiro especial para ti. 
Adubei e preparei com todo carinho aquele pedaço de terra. 
Fiz dele um lugar sagrado: meditava e buscava inspiração 
para ser transcendente. 
Não economizei dinheiro, horas de trabalho e atenção.

Quando você chegou, apenas reguei e alimentei com meu amor. 

Cuidar de ti era a experiência mais gratificante de ser jardineiro. 
Minhas mãos e meus pensamentos se refaziam dia-a-dia ao te ver e tocar. 
Eu havia chegado à maturidade e ao regozigo de ser feliz. 
Agora eu seria eternamente teu.

Um dia você quis olhar para outro jardim. 

Disse-me que lá a grama é mais verde, o chão mais rico, 
o jardineiro mais formoso e as companhias mais desejáveis. 
Deixei você ir. Amar é nunca prender, sempre deixar a liberdade viva 
e presente para o encanto do reencontro.

Então decidi destruir meu jardim. 
Não queria me apaixonar mais. 

Destruir jardins não é acabar com o amor, é evitar as oportunidades de más intenções. 
Eu ainda te amo, e respeito tua escolha: esse novo jardim é tua fantasia. 
Só lamento que, após cada dia de distância, a velhice está se aproximando 
e possivelmente não haverá mais chão fecundo.

Hoje, sou eu quem preciso de cuidado. 

Preciso ser regado e adubado. Preciso de ti. 
Não deixei de ser jardineiro, deixei de cultivar o teu amor.


(Obs: Construído em prosa)

Passa-se o tempo


Contratempo é um aviso de uma vida agitada. Ele acontece justamente quando não se espera a perda de tempo. Em geral, não há paciência, não há compreensão e nem “simpatia” com a adversidade. O contratempo é um desastre: só técnicos da tragédia é que podem lidar com ele. Chegar atrasado a um encontro, por exemplo, pode significar a perda do contrato, do relacionamento e da fidelidade. A justificativa é um álibi para provar ao contratempo que a vida precisa de ações misericordiosas. Infelizmente, a sociedade não gosta de justificativas e nem de abonos. Há instituições que preferem agir com impiedade porque não querem compreender como a vida das pessoas está se encaixando nos padrões sociais. Diariamente queremos vencer o tempo, mas, na verdade, estamos vivendo contra o tempo. 

Uma doença é a mazela de que o tempo deixou de marcar o progresso da vida para iniciar a morte. Ninguém sobrevive à doença senão aderir firme à fé escatológica e esperar pela eternidade. A doença deixa de ser contratempo quando a nova vida ressurge em cada transcendência do próprio tempo. É a metáfora da fênix, da fertilidade, da essência, do espírito. Somos sementes da esperança lançadas no tempo para germinar e dar sentido ao mundo, a célula seminal de que a vida é eterna. O corpo sempre morrerá, mas a psichē viverá porque germinará no infinito do pensamento.

A idade é o marcador de tempo que não se recupera mais, ela é quem gerencia a longevidade e a brevidade dos acontecimentos. Mente-se a idade para dar alívio ou esconder os contratempos de viver mais ou menos. Quem se engrandece seguramente da idade que tem, assim o faz e confunde os anseios e desejos de quem não sabe entender a dinâmica do tempo. Por isso, há quem antecipe o sofrimento para dizer que a velhice é a aposentadoria de inconformados com a ausência de sentido para a vida.

A sexualidade não se refere à idade do sexo. Ela surgiu justamente do encontro dos sexos que fecundaram o ser da existência: eu, você, ele, ela, nós, vocês, eles e elas. A sexualidade se torna contratempo quando os “prós” são anulados, ou seja, os pró-nomes, as pró-vidas, as pró-atividades e as pró-idades. Talvez a rejeição dos “prós” não seja só discussão política, determinante do poder. Nem dos aglomerados sociais, referente às funções que se ocupam nos grupos. Muito menos dos discursos ideológicos, reinantes nas comunidades religiosas. E de longe será por embargos econômicos, baseando-se na relação de produção, comércio e trocas. Ela é contratempo porque se opõe à padronização de cada um destes já citados. É, sim, contratempo porque emergiu da solução que cada um encontrou para sobreviver. E, nesse sentido, a fé se torna libertadora quando dá sentido de inclusão à idade do sexo.

Há necessidade de gostar dos contratempos. Eles ajudam diariamente a refletir “além do tempo”. Dá-se sentido à busca de realizações, dá-se significado às libertações e dá-se responsabilidade aos agentes de transformação.

Mar da sabedoria


Cheguei às águas da praia. Molhei os pés e esperei salgar-me
Infelizmente não houve tempo suficiente para mudar-me
Vesti-me e só presenciei pelo olhar com a intenção de tocar-te
Mais uma vez acordei porque sonhar é voltar a ti e abraçar-te

Decidi pela segunda vez nadar. Pulei as ondas e abracei acima das marinas
Mergulhei por baixo dos sulcos o puxar da correnteza sentindo a sina
Puxei fôlego aos pulmões impulsionando-me para flutuar pelas narinas
Foi assim que me acalmei boiando em água sem agitação - expressão ladina

Olhei o firmamento e vi as nuvens se formando como mensagem a decifrar
Era o de um mundo de paz, de justiça e de amor fraterno e singular
Pássaros voavam em círculo como um grande rei majestoso a coroar
Era a Terra-Mãe, rainha e senhora, abençoada e dando vida a celebrar

Um surfista pára ao meu lado e pergunta sobre o porquê de me ausentar
Disse-lhe que precisava entender a dinâmica das necessidades a manusear
E também que neste mundo há grupos que, sem educação, não há como lidar
Se uns fazem, dez mais destróem - levando-o a entender que é preciso cooperar

Foi-se embora. Aproximou-se os sábios golfinhos cujas experiências são de alegrar
Contaram-me liturgicamente todos os segredos para este mundo transformar
Hoje tenho as sementes da mudança e estou pronto para fazê-las germinar
Por isso, hei de constranger e chocar alguns, mas sempre pelo amar

Voltei à praia e encontrei-me com meu grupo, minha communitás a congregar
Profetizei-lhes sobre a vocação de discipular, foi a deixa para fomentar
Entre todos o poder dvino, cheio de entendimento que haveria de se manifestar
E cada um sentiu-se animado porque tornaram súditos do Espírito que veio reinar

Doce ilusão


O silêncio é verdade quando se é autêntico
Sai do anonimato e torna-se adulto de fato
Arde como arsênico, cuja lealdade faz-se idêntico
Ato nato que revela-se em culto relato 

Há algo em ti que me atrai, olhar único e sedutor
Por isso não procuro o que me distrai, senso pudico e sem frescor 
Você tem o que quero e bem aí, é arisco e cheio de ardor
Em trajes simples na Sapucaí, sem atrito faz-me teu mentor

Na praia deserta, tua companhia foi passageira
Eu fui o teu prometido, ausência da domingueira
As ondas batendo em ti, revelaram tua tez fogueteira
Na areia, descansei em ti minha marola derradeira

Em minhas tristezas é a tua imagem que me consola
Passado não é saudade, mas vestimenta e estola
Sacralizando nossa outrora união, a dois ela foi a “cola”
Dos conteúdos e fluidos dizendo adeus em boa hora

Os passeios escondiam horas e tardes inesquecíveis
Em devaneios, conseguia relaxar dos descansos inexprimíveis
Mas agora sozinho, sofro os traumas dos sonhos inexequíveis
Você é a doce ilusão, a religião dos amores invisíveis

Essa peça branca é demais imagética
Sempre seduzi-me por inteiro sem ética
A terceira intromissão veio a mim colérica
Quando rever-te, terei atitude homérica

Teologia urbana (cidades)

Essa série é sobre o estudo da cidade relacionada à missão da igreja. Apreciem. 

1. Igreja como agência prestadora de serviço.



2. Ministério diaconal



3. Programas da igreja oferecidos para a cidade



4. Programas musicais feitos pelas igrejas para a cidade.



5. Calendário litúrgico integrado à agenda cultural da cidade. 



6. Ações estratégicas de cidadania como testemunho.



7. Litanias e pastorais nas liturgias da igreja com conteúdos à cidadania.



8. Os campos missionários da cidade.



9. Cidadania e desafios sociais contemporâneos. 



10. Tráfico de drogas e criminalidade eliminam a vida humana nas cidades. 



11. Política como campo missionário da cidade. 



12. Campos missionários da cidade e espiritualidade.



13. Pregação inclusiva. 



14. A cidade é minha paróquia. 



15. Líderes midiáticos 



16. Teologia da prosperidade.



17. Líderes ditadores e o desafio da evangelização das cidades. 



18. Pescar no aquário dos outros como estratégia de crescimento. 



19. Deus fala às igrejas para o anúncio dele às cidades. 



20. Presença profética da igreja na cidade. 



sexta-feira, 22 de março de 2013

Quero ser gente!




Música é a composição harmoniosa de ruídos. Encanta aos ouvidos porque tais sons levam-nos da nostalgia à euforia, da alegria à acedia. Motiva-nos, também, aos remelexos corporais - afinal o que seria a dança sem a música?

Já o poema, ah o poema, esse, sim, é a música d´alma, a música dos sentimentos. A humanidade deveria ler poemas para aprender a ser gente. Poemas ensinam sobre o valor da vida como romance: a epopéia das relações, as odes das tragédias, a rapsódia da política, enfim, os amores de perdição e salvação!
É o poema que exerce sobre nós o domínio de nos fazer reflexivos e críticos.
As MPBs deveriam ser recategorizadas, não quanto ao gênero, mas, sim, quanto ao conteúdo. Quem dá valor à poesia, sabe fazer essa classificação. Quem escolhe é aquele que aspira ser ente.
O que é a poesia além da música?
O que é a música sem a poesia?
O que é a música com a poesia?
O que é a poesia?

Roupa Nova possui músicos poéticos! Traduzem o que a letra quer enfatizar para a música. E ai, despreocupados com o mecenato, produzem (do latim, poer), fabricam o poema com a música.
Poesia é isso: musicar os sentimentos da vida.

E os cânticos espirituais (corinhos) de nossas comunidades? - Não respondo porque teria que excluir muitos deles... Sabem o porquê das comunidades cantarem corinhos? É porque precisam animar o corpo, enquanto a alma fica por conta das palanfrarias sermonárias. Se lêssemos, cantássemos, a poesia bíblica, seríamos cristãos poéticos - transformadores de vidas. 

Janela para abrir, vida para surgir



Estou só, sem ninguém no momento. Busco mais solidão no quarto dos mementos
Lá, preso ao nó, aquém do movimento. É pura ilusão de um parto de sofrimentos
Sou como pó além do pavimento. Há, sim, no coração o enfarto dos entupimentos
É o dó de alguém estar no esquecimento. Sequidão como descarto os lamentos

Sem ser a porta, só a janela é minha fuga em situação afligida
Bem que se comporta nela tem mancha suja pela lição não aprendida
Vem a luz e aborda em sentinela, e se aluga em emoção fingida
Revela pintura morta em aquarela de minha luta comoção sentida

É que você foi embora. Sobrou a rosa vermelha em cima da cama vazia
Quatro pétalas sem orla, em tosa, figuram junto à minha orelha. Fama que jazia
É a única flor da hora prestada em prosa da centelha – a chama ainda ardia
Viro-me sem demora, ação corajosa, magia sortelha da trama agora tardia

Preciso de luz, porque sinto que estou tornando-me obscuro no entendimento
Preciso de calor, pois estou congelando-me. Não procuro o teu aquecimento
Preciso de ar, pois estou sufocando-me. Sendo inseguro com o envelhecimento
Preciso de espaço, porque estou crescendo-me. Não aturo o encolhimento

Só tenho uma solução: abrir a janela. E após ela te encontrar
Que pena! Sou sem noção. É como partir em quimera. Só prantear
Vou manter a projeção. Quando o sol vir até ela, irei acordar
Só espero que meu coração aguente no porvir da cinderela a celebrar

Abrir a janela é como ter olhos para alma: mente e coração se entendem
É ver a si mesmo pronto e com calma: sente-se que a emoção também aprende
Que a vida é descrita na palma: as nervuras dão atenção à verdade bem crente
É preciso empurrar a amálgama da vida com determinação solvente

Tenho receio. Não sei o que vou encontrar. Só o tempo para me curar
Amigos do meio tentam me ajudar, com senso e experiência para me sarar
É o freio do meu trabalhar e pensar. É o sustento do meu ente a amar
Por isso creio que hei de superar, sendo terno e ciente a perseverar

Sim, eu irei abrí-la, mas não revelarei o momento. Será uma aventura
Pois serei eu mesmo o colibri desse evento. Voarei com brandura
À janela eu surgirei soberano como sol 
e assento. Terei nova postura
Serei novo homem com um novo alento. Estarei com conhecida figura

Quero meu diploma!



É muito difícil construir-se como ser humano. É a tarefa mais complexa de se realizar. Nunca ninguém explicou porque bocejar em público é errado. Apenas dizem é "falta de educaçao". Só que ao observar alguém bocejando, imediatamente dá vontade de fazer o mesmo. A caminhada na construção do ser começa da mesma forma: imitação. Observamos os pais, irmãos, amigos, celebridades e, no instante seguinte, queremos fazer o mesmo.



Na caminhada cristã também ocorre o mesmo. Queremos imitar a Cristo. Não que isso seja impossível, é que o Espírito da verdade habita em nós e exige-nos a prática da autenticidade. Não é fácil ser autêntico perante a sociedade. Há muito mais para igualar-se às consequências da corrupção e ser próspero do que apenas desejar ser autêntico.

Autenticidade é um selo, uma chancela, um carimbo, colocado sobre um produto para afirmar que é verdadeiro. É o testemunho jurídico incontestável. Estudamos, mas é o diploma que outorga-nos ser verdadeiros. Ensinamos, mas é o certificado que diz sermos qualificados para tal. Votamos, mas é o título eleitoral que nos concede esse privilégio. Casamos, mas é a Certidão de Nascimento e o Registro Geral Civil que nos alega sermos isentos de concubinato. Viajamos ao exterior, mas é o passaporte que diz pertencermos ao Brasil... Na construção do nosso ser, o diploma é a vida de autenticidade. Erramos porque não sabemos como ser construídos com a verdade. E, maliciosamente, exigimos que nos concedam diplomas.

É por isso que a experiência de conversão torna-se inócua diante de tantos arquétipos da falsidade, mentira e corrupção. A própria casta dos santos e justos casou-se com a casta dos impuros e injustos. A igreja se tornou um fim em si mesma, com tipologias de comportamento embalados: o cliente chega e o kit de espiritualidade é entregue. Na política é idêntico processo: bons congressistas são eleitos, e no momento em que chegam ao Templo da Injustiça, passam pelo rito de desconversão.

A prova de que a autenticidade existe em nós é quando passamos por crises. Às vezes contornando-as e, muitas vezes, vencendo-as. É quando vemos que o sofrimento não nos fez perder a essência de viver, isto é, não nos corrompeu. Em verdade, deixou-nos mais sensíveis à possibilidade de transformação.

Ser autêntico significa assumir as consequências. Uma mãe ou pai, que revoltam-se contra Deus porque o filho foi vítima de algum embriagado ao volante não estão sendo fracos na fé. Estão sendo autênticos. E uma família que teve a filha estuprada e assassinada por um delinquente e, tempos depois, chega a perdoar o malfeitor não é porque é o "correto" a fazer, mas porque entenderam que estão sendo verdadeiros consigo mesmos. A atitude de ser verdadeiro é o poder de transformação em qualquer sociedade caída.

Esse é o dilema atual da integridade humana: o medo de ser autêntica. Reprime-se a sexualidade, perverte-se o direito, ama-se a injustiça, incentiva-se à guerra, manipula-se os interesses, sublima-se as paixões, vende-se o corpo e vicia-se nos prazeres. Não precisamos de provas para dizer que alguém "faltou com a verdade" - a própria construção do processo revelará a falsa integridade.

A comunhão dos santos deveria ser um local para se visualizar a autenticidade. As liturgias, principalmente as litanias de confissão, deveriam ser o momento do indivíduo provar da experiência de ser verdadeiro consigo e comunitariamente. As reuniões de oração - essas, sim, não sabem ainda que locam o poder da transformação pessoal - deveriam ser sessões autênticas de terapia conversacional. E os cursos de evangelismo e discipulado deveriam ser para a construção da vida integral.

É por isso que não existe diferença entre vida espiritual e carnal (alguns dizem secular). Já é uma dicotomia contra a própria autenticidade. Não vale a premissa "estou em paz com Deus, mas não quero conversa com aquele irmão". Quando somos dominados pelo Espírito da verdade, todo o nosso ser muda diante de cada nova situação, buscando sempre o exercício da autenticidade. É por isso que muitas pessoas sentem-se livres diante de psicólogos, psiquiatras e psicanalistas, no entanto, fogem dos pastores, padres e familiares. Qualquer conflito de sofrimento, principalmente os emocionais, é facilmente resolvido porque a verdade (sinceridade) é o princípio da cura.

Perder o selo de autenticidade é dar ínício à morte do ser. Corromper-se é falhar diante de situações de uso da verdade, tais como: sentimentos, temperamentos, comportamentos, habilidades, profissão, ministério e vida. É, mais ainda, aliar-se com os que já foram manchados pela mentira - é um ato de covardia consigo mesmo.

Através do trabalho salvífico de Cristo, a autenticidade se tornou uma possibilidade de realização. A cruz é o diploma dessa atitude. O Espírito em nós é a garantia da verdade.


Admiração digital



Tempo para confessar sobre atitude de maturar ardendo em meu pensar
No Facebook, sem titubear, foto tua a mostrar fazendo-me te contemplar
Sou adulto a galantear, teu sorriso me faz sonhar, tuas curvas desejar
Tu és leitura a devocionar, versos para meditar, palavras para contemplar

É por isso que gasto cerca de 15 minutos diários para te admirar
Tempo bom como pasto para animais em cenários praticando o ruminar
Digerindo o tema vasto dos esquecimentos temerários de se rejeitar
Pois é, sou muito casto com respeito aos otários que estão a te enganar

Quer saber? Sou verdadeiro e quero-te por total e nem hei de hesitar
Cada checagem no roteiro, vejo-te na moral e sem frescuras a cogitar
Não me vejo mais solteiro, desejo ser como casal e além mais planejar
Realizar-me por inteiro, deixando de ser mortal e aquém do "sim" continuar

Pena que você vai estranhar um pedido tão diferente – vai me ignorar
Não há como pouco disfarçar a relação tão latente – sai no gaguejar
Sofremos no abraçar e beijar o ato tão complacente – cai-se no repudiar
Nossas famílias hão de rejeitar amor decente – trai-se no aceitar

Visualizações privadas, só você pode acessar, é o segredo de poder bloquear
As salas sagradas, só podendo arquivos compartilhar, é o conteúdo a registrar
Últimas mensagens aladas, só ecoando as paixões no ar, é o anúncio de amar
Marcando noites sonhadas, só nadando em aberto mar, é o lugar de celebrar

Convidou-me a passear. Juntos, foi o nosso enamorar com uma revelação
Incitou-me a morar. Como casal, foi o nosso habitar com uma motivação
Conquistou-me no acessar. Companheiros, foi o nosso compartilhar com curtição
Dividiu-me no consumar. Como dupla, foi o nosso fraquejar com uma consideração

Agora,tua foto não posso deletar. Dia-a-dia faz-me sonhar, estou a me alimentar
Tudo em social, preto clássico, a festejar. Minuto a minuto traz ao ar, é como respirar
Sorriso sedutor, lábios de amor, a convidar. Memento a piscar, é como programar
O Facebook é o lugar para eu te sonhar. Todo acesso ao clicar, é como te materializar

O quarto



Todos nós temos refúgios que servem como lugares de segurança, tais como: bancos, presídios, Quarto do Pânico (filme, 2002), castelos fortes, etc. Refúgios são criados para gerar o sentido de segurança. Refugia-se para obter proteção dos ataques, e refugia-se para não se revelar. Existe, sim, ideias de mistério e segredo sempre que se adentra ao refúgio. O quarto em que diariamente dormimos é um deles!


O quarto é o lugar em que se libera os pudores. Tranca-se a porta e as janelas. Desnuda-se. Admira-se no reflexo do espelho. Julga-se as formas, as curvas, os pelos e até mesmo as saliências adiposas. A sós ou acompanhado, as intenções pudicas deixam de existir. O quarto também é o lugar do descanso, de relaxamento e de recuperação das energias. Nada é mais revigorante do que um leito especialmente preparado para um corpo fatigado: sereno, temperatura ambiente, escurecido, quieto e limpo. Enfim, o quarto é o refúgio do dia-a-dia.

Há outros refúgios mais contemporâneos. O mais famoso deles é a internet. Cria-se uma conta segredo e, como usuário alterado, coloca-se textos, imagens e conecta-se às redes sociais. Blogs são visualizações convencionais dos segredos. Erotismo e pornografia não são segredos, mas revelações dos vícios e prazeres. É pela internet que descobrimos outros quartos: bate-papos, rede-sociais, compras, prostituição, identificação de gêneros humanos e literários, jogos, etc. A internet é o refúgio dos que já se frustraram com os quartos convencionais.

Mas o maior refúgio de todos é a alma. É nela que guardamos os segredo jamais revelados. No mundo grego, a psiche era formada pelos órgãos da mente (cérebro) e pelo coração (emoções). Apreciava-se a relação entre o racional e o emocional, entre a cognição e as paixões. Há, nos seres humanos, um eterno conflito entre esses dois departamentos. É como se pudéssemos dizer de um divórcio entre a psicologia e a teologia! A psicologia entende a dinâmica da alma como autocompreensão, a busca da essência na vivência e experiência, o porquê dos sentimentos sem razão, análise sobre a intensidade dos conflitos vividos em situações de relacionamento, conquista pessoal e medos. Já a teologia, sem qualquer pudor, dogmatizará as relações de conflito como pecado e ou manifestações demoníacas a ponto de saturar a decente teologia da cura da alma.

A alma se torna refúgio porque ninguém pode adentrá-la, exceto a própria consciência. Nesse sentido, buscar o auto-entendimento é a cura! Deve-se tomar cuidado com os pseudo mini-cursos e palestras de cura interior. O cuidado da alma se dá em várias sessões de análise. Não é uma simples oração, mas muitas delas! Não é só uma conversa pastoral, mas muitas conversações de aconselhamento. A alma é, sim, um mundo de magia, mas não é por meio de uma oração mágica que os conflitos se resolvem. A alma é a que fantasia a realidade para que não haja a morte. É admirável a extensão das clínicas em especialidades psicoanalíticas sobre os problemas da alma. É lamentável o reducionismo que os líderes religiosos fazem com o sentido da alma na espiritualidade cristã. O equilíbrio é a medida terapêutica provinda da teologia, com a máxima de nos aproximar do amor e perdão de Deus, e da psicologia, com a vertente das relações consigo mesmo e com o próximo. Esse casamento resultará no benefício da alma, fazendo cada ser humano sentir-se integralizado.

Clínicas e comunidades deveriam oportunizar os ambientes do cuidado da alma através de excelentes sessões sistêmicas, principalmente as de terapia de casal e família. Adolescência se torna um período de rebeldia porque a família deixa de ser referência de cuidado e passa a ser referência de julgamentos e proibições. Relacionamento conjugal deixa de ser romântico (emoções) e passa a ser político-econômico (racionalidades) e, fortuitamente, entra na dinâmica das frustrações, desamor e feridas da alma: "ele tem outra" ou "ela está se arrumando demais". O perigo das particularizações é notória nas atuais sessões, enquanto as generalizações não produzem bem algum para alma. Atualmente, vê-se mais modismos em cultos de exorcismos, ou retiros de experiência, ou ainda métodos de aconselhamento e terapia para a solução dos estigmas sociais do que unicamente a alma. Um adolescente que está ainda por descobrir a sexualidade não consegue racionalizar o sentimento, apenas ele mesmo sabe o que sente. Já a família quer padronizar o comportamento, sem se importar com o sentimento. O duelo só é mais conflitivo porque não pais, igrejas e clínicas possuem as armas. O adolescente não. Ele será, sim, aniquilado. Por isso quem refugia-se na alma enquanto adolescente, na fase adulta o sofrimento é bem maior: cada dia destrói-se sem ver esperança.

A solução, a princípio, é a proposta do homem-Deus e do Deus-homem, Jesus, quando disse: "Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?" [Mateus 16:26]. O contexto é de Jesus conversando com Pedro e alguns discípulos sobre o custo do discipulado. Do ponto de vista literário, trata-se de um dito de sabedoria – aqueles ditados que conversam com a consciência. Essa é a dinâmica da destruição da alma: ganhar o mundo, possuir as pessoas, extrapolar o nível das adrenalinas e das toxicinas, expropriar-se do próprio corpo ou adorá-lo, atingir o nirvana sem escrúpulos, ser hedônico, extravasar nos pudores, matar-se nos vícios. Mas é alma que garante a realização infinito de todos os desejos humanos. Esse investimento nunca será apresentado pelas estruturas do mundo, nem da religião, mas da alma de cada um!

Curar a alma ou liberar-se dos segredos que oprimem é investimento! Portanto, deve-se investir no quarto. A primeira sugestão é realmente saber sobre a intensidade do segredo: "Toda emoção é sexualmente sentida. Toda cognição é racionalmente elaborada. Logo, ou eu não sinto ou eu não entendo" (ECP, notas pessoais)... "Não adianta dizer que mastubar-se é pecado, racionalmente há esse ato cada dia. Não adianta emocionalmente ficar excitado, a celebridade não me dará chance" (Ibdem). O investimento no quarto é saber que ele não deve ser realmente o esconderijo, mas o descanso. Arrombar a fechadura é desvelar-se do segredo. Nada há o que fazer senão assumir a verdade – nesse momento, o segredo se torna cognoscível e o refúgio se torna habitável por todos. Negar a verdade é querer assegurar o quarto como segurança. Só que haverá mais fechaduras – nesse momento, abre-se para a vulnerabilidade e a fuga por uma das janelas é inevitável.

A segunda sugestão é construir-se de elementos indestrutíveis, tais como: a integridade. É percorrer um caminho que em nada haja amargura, rancor, ódio, desavenças, traumas, injustiças, etc. É investir na própria resiliência – capacidade de suportar o sofrimento – e ainda tornar-se mentor de outros. A integridade fortalece o ser enquanto essência abençoada, isto é, sempre fala-se bem de cada um de nós! Ela qualifica o caráter do indivíduo como algo que irá superar qualquer defeito: o que você é se torna tão grande que não se pode ver ou ouvir o que você disse ou fez. Integridade é um dos refúgios mais tranquilos de sentir-se humano, nenhuma força maligna quebra essa fechadura.

A terceira sugestão é a sociabilidade. Não significa confiar em alguém para compartilhar seus segredos, mas ter um número razoável de conexões que dê sustentação ao seu ser, tais como: companhia, amizade, eventos, viagens, jogos, esportes, passatempos, etc. É saber como a rotina do estilo de vida determinará a satisfação pessoal. Isolar-se é tornar a alma vulnerável e susceptível aos ataques do mundo não-socializado. É ainda ter qualidade de vida e proporcionar vida à qualidade de outros.

Cuidar da alma, então, é cuidar da razão e da emoção – não importa o certo ou errado, importa que sentir é faculdade da alma, e cuidar dela é conscientizar-se sobre a harmonia de si. Achar-se que sentiu errado é condenar-se. Todos sentem loucuras, mas é a razão que nos dá o limite de colocar em prática o sentimento. O que vem acontecendo ultimamente é que não admitimos o que sentimos e, por causa de imposições racionais dogmatizadas, fingimos entender o porquê desse sentimento. É assim que começa a doença da alma...

Por isso deve-se crer que quem lê poemas está cuidando da alma, e não porque é "delicado". Quem lê a Bíblia está tentando encontrar a harmonia de si, e não provocar prévio julgamento. Quem ouve o Espírito está visualizando a fortaleza e a fraqueza do quarto e demais refúgios, e não vestindo capas e máscaras de santidade. Quem cuida de si é fortemente habilitado para exercer a alteridade, e não vangloriar-se de fingidos sucessos. Quem constrói quartos está preocupado em manter-se seguro apenas e até para receber outros, e não para achar-se que vai ser atacado. A alma é a única composição que permanecerá eternamente!

Quer tentar?



Queima muito porque não é feito com cautela
Bate no fundo, arde muito, com a batida dela
Será que serei socado pela vida como mazela?
Sem direito a nada, indigente, ignorado em querela?

Sim, é ela a responsável pela minha tristeza
Todo dia tira-me o apetite quando à mesa
Preparo-me para recuperar como realeza
Não adianta mesmo. Já estou saindo da nobreza

Ela é a memória de uma foto que guardo
Em secreto com o foco do grande marco
Revela somente a mim. Ficarei em resguardo
Nem ouse vir aqui. Envenenarei-me com fármaco

Quer saber? A memória me mantém vivo
Nem vou mais ao rio, porque tenho tido
Muita esperança em estar novamente contigo
Tudo por causa do convite suspeito, mais que amigo

Eu vejo mais além do que as formas
É porque ouso trangredir as normas
Nem toco-te, apenas penso nas orlas
De tuas extremidades, as tuas bordas

É porque o preto me seduz, o cinza faz jus
Ao meu estado de espírito quando reluz
Ao te ver na foto, a fantasia me conduz
Ao mundo que crio na imaginação de luz

Só que é aquela cor viva, a única reveladora
Chega-me a causar medo. É na alma, é tentadora
Por isso, escondo tudo. Reprimo a força usurpadora
É que não quero te machucar com fome predadora

Por que mudou a foto? É para me matar?
Eu vejo mais que a batida fotográfica
Sou eu que tenho os suportes para te amar
Já detectei e esquadrinhei-te como ciência geográfica

Estou livre por seis meses. Quer tentar?
Só tenho receio que você venha se apaixonar
Pois sou cheio de ternura, carente de amar
Você será a minha onda, eu serei seu mar!