domingo, 27 de maio de 2012

Só corro!

Sabe quando nada coopera:
Espera-se, então, a primavera.
Notícias não são novas
Tendo, sim, provas.
Indo às adversidades,
Negam-me as oportunidades.
Dizimam-me pela fragilidade,
Obliteram-me pela insensibilidade.

Mensurarei as mazelas,
Somente alegrarei as donzelas.

Por favor, não sejais desumanos,
Adicionando-me aos manos e
Inquirindo-me: por que os prantos?

terça-feira, 1 de maio de 2012

Auto Nomia



Um, realmente, pouco é
Você não suportaria
Só em latim, ah, Noé!
Cem vezes dez
Se não acertou
Olhe o céu
Anil é!

Água aquecida lentamente
Evapora e se concentra
Energia do calor alimenta
Girando rodas que engrenam
no trem, barco e destilaria
Em Manaus, caldo eu preferiria
Pois a eira e a beira
Complementam, sim, o sentido
Com sobressalto no meio
Formado com cal e cadeira

É pejorativo no sentido
Fica protegido sempre
Reage aos mimos e não mente
Cresce sem pudor, mudando de cor
Com toda gente, que alegre, atende


Interpretação

Vamos começar pelo título. Auto é um prefixo grego e latino. Em grego é designação de pronome, e em latim indica movimento, ação. Portanto, é um prefixo relativo a si mesmo, próprio, e a automóvel. Nomos, por coincidência, também é sufixo latino e grego indicando-nos regra, leis, diretrizes.  De imediato, o título já nos direciona para duas compreensões sobre o poema: (a) trata-se de algo que revela de si mesmo e (b) trata-se de uma revelação dinâmica, ativa. Logo, podemos concluir que irei falar de mim mesmo através de descrições próprias. Vale ainda ressaltar que nomia é relativo aos nomes, à classificação dos seres, objetos, coisas, etc. O poema é uma autorevelação. Aos que acham que trata-se de um automóvel, diria que, figurativamente, poderei me considerar como tal, mas prefiro a designação a pessoa, ser humano.

Primeira estrofe: dimensão temporal identitária

Há vários recursos que utilizei para construir o sentido.Primeiro é o da semântica, isto é, eu tenho o termo-chave em mente que irá dar sentido ao texto (às palavras que se ligam). Por exemplo, vamos trabalhar com os números. Logo de início, digo um e depois cem vezes dez. Um remete-nos à idéia de unidade, unitário, individual, único - mesmo afirmando que é pouco. Pode-se até pensar no adágio popular um é pouco, dois é bom, três é demais! E a conta de 100x10=1000, mil. Logo, mil você não suportaria. Estou trabalhando aqui com as potencialidades de um para mil. Esta conta é apenas para gerar o significado que se descobrirá a seguir.

O segundo recurso é o da eufonia (som belo, som gostoso de se ouvir). Há dois momentos para percebê-lo: (a) quando uso ah, Noé! Aqui, tem-se que combinar os sons de ah e Noé. A letra h, em língua portuguesa, é muda. Sendo assim, sobra anoé. Se atentarmos para os três és (1a, 3a e 7a linhas), percebe-se que essa sonoridade repetitiva serve apenas para combinar o final das frases, mas que não tem ligação nenhuma com anoé. Elima-se o é, sobra, então, apenas ano. Ao fazermos conexão com um, logo tem-se um ano, e a conexão com mil, tem-se mil anos; (b) e quando uso anil. Anil é adjetivo e equivale-se ao azul, mas aqui tem-se que observar o som. Toda vogal, em língua portuguesa, seguida de n, pode ser língua tanto com som áspero como a em catá, ou ã como em anjo. Logo, ao ler ãnil e feita a transcrição fonética, tem-se o som aeniu. Sabe-se que em latim o sufixo enium deriva de anno (ano), então milênio = mil anos. Dai, Ah, Noé! e Anil é! refere-se a Ênio, meu primeiro nome.


Segunda estrofe: dimensão energética laboral

Bom, creio que após a explicação da primeira estrofe, certamente, você já vai deduzir o sentido. Todavia, a construção da estrofe foi totalmente simbólica. Há duas partes, a primeira sendo da linha 8 até a 14 ao descrever o vapor - água aquecida. O vapor gera pressão, produzindo calor (energia) para mover as máquinas (trem, barco, destilaria). Até aqui, creio que não há dificuldade para achar que o vapor é, sim, o conteúdo dessa parte, no entanto, admito que ele servirá para dar sentido à segunda parte da estrofe (linhas 15 a 19) - e é aqui que precisarei explicar.

Tive o privilégio de visitar Manaus e ficar lá por uma semana. Maravilha de viagem! No último dia da viagem, no período vespertino, fiz turismo. De princípio, junto com os demais alunos, almoçamos em um típico restaurante manauense: peixe. Assado na folha de bananeira, no espeto, frito, ensopado, pirão, entre outros. E de várias espécies. Durante o almoço pediram que eu provasse o caldo de peixe. Então, o atendente trouxe um líquido que me fez confundir. Sempre achei que caldo de peixe fosse a base do pirão, entretanto, para os amazonenses, caldeirada é porque o peixe é cozido em um caldeirão. Os manaós, indios nativos que deram nome a Manaus, associaram o peixe cozido ao uso do caldeirão para fazê-lo. Daí chamarem esse prato de caldeirada (onde é preparado o caldo).

Então, agora, é só juntar caldo+eira = caldoeira e cal+cadeira = caldeira. A frase Com sobressalto no meio serve tanto para (cal+cadeira) como para dizer que é o meu nome do meio: Caldeira. 




Terceira estrofe: dimensão... censurado!!!...
 
Sem maldar, pessoal!!! Agora vai parecer meio podre! Cada um faz a interpretação que quiser... Só um detalhe: meus poemas, além da verbe literária, foram construídos como uma prática de pensamento crítico (Critical Thinking for Instructional Design)... assim como também é feito com jogos... Sendo assim, por questões óbvias, vou restringir a explicação da terceira estrofe (rsrsrs).