domingo, 30 de junho de 2013

Sino da missão


No meu quarto, há um sino
Que toca pelo Espírito 
Então não minto:
Vivo porque creio e sinto

Sei que Ele está lá
Querendo o sino tocar
Mas só irá badalar
Quando eu confessar

Contrição é a máxima da espiritualidade
Ela força-nos à prática da autenticidade
Remexe o interior, revelando integridade
E aproxima-nos do Sagrado em intimidade

Dia-a-dia entro no meu aposento
Sendo tocado por Ele no grande lamento
E após minha devoção, preciso de movimento:
Rascunho ações de testemunho a contento

De manhã, vou à cozinha na liturgia do café
Sozinho, busco a bênção dada pelo ato da fé
Para mim, o quarto é o centro da Santa Sé 
É lá que o sino toca, do fio do cabelo ao dedo do pé

O sino parou de tocar. É hora de sair
Vou para o mundo, mas não vou me prostituir 
Porque as riquezas do Espírito é o compartir 
De um para o outro, ação de construir

No mundo, ouço muitos sinos tocando
De pessoas que andam se trombando
Pois elas não têm quarto. Estão perambulando
Ficam perdidas e feridas, não estão se curando

A missão é mostrar o quarto onde o Espírito toca o sino
Porque lá acontece a catarse dos pecados e acha o destino
Dos que querem mesmo viver a integridade do Caminho
Hoje a cidade é o campo, cujo badalo está sem tino

Vi a ganância

Não comemoro meu aniversário!
É porque joguei fora o anuário 
E comecei a viver em aquário
Desde o dia nosso no Planetário

Ali ficou claro que seria a saudade
Minha única parceira de felicidade
Afinal, você disse adeus com crueldade
E eu nem sequer fingi ser a beldade

Não entrei nos "intas" e jamais nos "entas"
Tua vida será inferno cheio de tormentas
Só porque rejeitou-me no dia das velas
E eu serei jovem sempre sem mazelas

Tua insensibilidade te matará aos poucos
Doerá a cabeça e fará parte dos loucos 
Braços e pernas atrofiarão como os mouros
Tua única vitória e coroa serão de secos louros 

Você progrediu comigo, mas perderá tudo com os outros
Eu te fiz em excelência, e agora viverá das maledicências
Eu te ajudei a entender o mundo, contudo perderá o rumo
Eu te dei amor, e, mais uma vez, só, ficará sem carinho

Você me trocou por causa dos teus amigos otários
Faltam-lhes compreensão de vida e níveis universitários
São ouvintes da medíocre opinião de indoutos papagaios
Nada acrescentam porque tudo fazem em frangalhos 

Vá então para eles e revele teu sonho de cinderela
Mostre-lhes como tua vida é de cristal falso de Compostela 
Nem foste formada da proto humana osso de costela 
No final dormirá com ratos e baratas, mulher de favela

Vingo-me de ti da seguinte maneira: eternamente te amando
Pois ninguém fará isso por você... será estéril sempre anuviando
Jamais será transparente em tuas verdades, fala minguando
Não terá enterro digno e nem transporte edênico. Será etérea pairando

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Bulbo não é bobo!


Sempre que chove, vou ao meu jardim
Aproveito que a terra está macia, sim
Mexo em todos os canteiros, do começo ao fim
Tento encontrar o bulbo que ali deixei para mim

Ai, só espero a estiagem e vê-lo germinar
Duas pequeninas folhas começam a aparecer
Afinal, terei esperanças de contemplar novo ser
Em poucos dias, o bulbo há de crescer e brotar

Também é assim no amor
Plantamos e esperamos vê-lo crescer
Mas vem a separação em dor
Morremos e velamos ele desaparecer

Hoje chove muito mesmo
Mas não tenho mais jardim
É que preferi ficar a esmo 
Sem canteiro, sem pá, sem mim

Decidi não ter jardim com perfeição
É que gastei muito trabalhando  
Plantando, regando e cuidando 
Para que outros me arrancassem a paixão

Concluí que a vida é o maior jardim a ser cultivado
Então não preciso procurar bulbos nem chão arado
Serei eu a maior cultura a ser preservada
Ninguém jamais me arrancará, senão o Amado

Vai ser assim de agora em diante
Deixar de ser amor e virar amante
Ser jardim para mim mesmo constante
Doutor, mestre, graduado, eterno estudante

Na minha vida só há lugar para meu amor:
Eu mesmo. Sim, Narciso é meu penhor 
Aprendi com a enchente no canteiro do desamor
Há um só Deus, mas o diabo quis ser senhor

Para que plantar flores, se a verdadeira beleza ninguém verá?
Para que ter jardins, se há desmatamentos de "a" morrerá?
Para que guardar bulbos, se já tenho o gancho do menorah?
Para que chover água, se meu deserto é que viverá?

Instabilidade


Quando cheguei ao Norte já era inverno
Na verdade, começou um pequeno inferno
A distância era meu tormento a céu aberto
Ficar sem ti foi como mira sem tiro certo 

Saía de manhã para devocionais no parque
Ventos frios e gélidos foram metáforas landmarks 
Cada reminiscência tornou-se na mente ataques
Ao conversar, todos já percebiam meu sotaque

A neve em Illinois foi como prisão 
Só haveria novidade se tivesse amigo-irmão
Os telefonemas foram comida de alçapão
Caí feito passarinho, sem ninho, sem colchão

Lá, faltou-me palavras tuas de incentivo
Nem um "je t´aime" teu como estímulo objetivo
Chegou aos meus ouvidos, deixando-me altivo
Amar-te não foi destino, mas gesto meu assertivo

Dois dias isolados pela branca tempestade
Foi o que a mãe-natureza usou como finalidade
Para mostrar-me o aprendizado à nova maturidade
No meu aniversário, recebi um "adeus" com crueldade

Então, mais uma vez, sentei ao banco sozinho
Apenas um corvo cantou - presságio do destino
Não me assustei. Refletia sobre gesto cretino
As nuvens eram assombrações do ausente carinho

Fiz uma oração: "volta prá mim". Até roupa nova usei
No entanto, entendi o meu fim: morte à minha vida. Dancei
Infelizmente começou a ventar, queimando as covas da face. Piorei
As manchas que tenho são cicatrizes da lida, pois sei que te amei.

Minhas inúmeras idas ao Norte representam uma construção
Em cada viagem, construí muralhas como o imperador romano
Então, hoje, entendo. O Norte é minha educação e o Sul minha perdição
O equilíbrio não existe. O Supremo ordenou: "deixarás de ser humano"

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Compensação


Ja fui despertado pelo amor 
Ficando perdido em torpor
Sentindo na pele o calor
E na alma gerando a dor 

Então, decidi te assumir
Juntos combinávamos compartir
Para que no porvir
Família pudéssemos construir

Na vida sempre há um fim
Foi mais ou menos assim:
"Time is over", enfim
 A morte chegou para mim

Só quero afirmar o seguinte:
Relacionamento é requinte
Nunca será ação pedinte
Diálogo foi nossa arma constituinte 

Porque gerou sempre na gente
A entrega mútua totalmente
Até que o tropeço chegou finalmente
Em forma de desamor fatalmente

Seis anos foi o máximo da paixão recebida
E três desses seis será a besta concebida
Por isso queima a face sem ser aquecida
E gela o corpo em noite mal dormida  

Voltei. Não para odiar, mas para conquistar
E explicar o que significa à distância amar 
Beijarei teus lábios lisos para saborear 
E ouvir na tua língua as ondas do mar

Não quero mais falar, apenas deixar a mágoa me culpar
E aprender através da solidão o tempo para te perdoar
Nem no céu iremos nos encontrar porque haverão de me odiar
Por ser contra as ordens divinas de recusar a te amar 

Só farei loucuras porque quero compensar 
A tristeza e as angústias, quais sejam não pude aguentar
Vou embora. Você não vai me achar, nem me localizar
Depois permitirei que você deposite-me flores, sendo eterno, ao me visitar 


domingo, 9 de junho de 2013

Incomunicação



Literalmente celular e chip destruídos!
Comunicação só por Email ou Skype
Será assim o silêncio sobre fatos doloridos
Conexão falha aos sem esperança e sem naipe

Vidro da sabedoria é frágil diante da maldade
Vigio sempre a hipocrisia dos idos da ignorância
Foi, sim, em cabo sem energia que vi tamanha crueldade
Desde então, fui alvo da infeliz e desenfreada militância

Não será fria a noite? E gélida ficará a alma?
Rejeitar alguém é como matar e não enterrar
As tristezas e angústias são constantes pós traumas
E o destino é ficar sobre o túmulo a lamentar

Mortos são lembranças de perdas que tivemos
Só pela fé, hemos de encontrar os ressuscitados
No paraíso, levará um susto: sem arrepender do que fizemos
Também estarei lá. Em contraste aos tensos passados








 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Flor sem jardim

 
A vida deixou de ser jardim porque não nos contentamos fincar raízes
Antes, queremos ser pássaros para voar sem direção, sem pouso
É o vício das juventudes que se recusam a observar altivas matrizes
A maior dificuldade é deixar de ser galinha e virar águia em gozo 

A vida também não é flores porque deixamos de ser vaso
Sem cuidado, ela murcha e seca - não há renovação
Bulbos não são só sementes. Família não é sêmen ao acaso
Flor é a metáfora da estética viva como depósito para plena redenção

A vida é a essência dos segredos disfarçados de humanidade
Infelizmente buscamos a realidade de valores com termos
Tais segredos só se revelarão quando formos uma só irmandade
Ou melhor, quando todos eternamente adormecermos 

Por isso a vida é, para mim, a potencialidade da ressurreição
Sou flor porque sou húmus a ano, Deixarei de existir para o pecado
Sou figura visível, pura física socrática, devir essência divinização
Só débil logra-se com argumentos insensatos. "Tá lesado"

Não me julgue se sonho com a imortalidade da minha essência
Lá, no Limbus, hão de procurar flores, eu encontrarei amores
Minhas ações deixarão de ser escândalos e serão clemência
Porque no transporte ao Caelum, aliviarei teus grandes temores

A vida só tem sentido em companhia, a existência em harmonia com ela
Por isso quero exterminar essa angústia de solidão, minha partida se aproxima
Vou voar e aqui não mais pousarei. É nos ares que te esperarei como chama de vela
A flor já morreu, a vela já apagou. O jardim foi destruído. Espero-te lá em cima.