TEMA: Vida Cristã
TÍTULO: Uma vida de santidade
TEXTO: Efésios 4:17-5:1-4
PROPOSIÇÃO: Sendo crentes em Cristo e transformados pelo poder do Espírito Santo, cumpramos as exigências de uma vida de santidade pela conversão da mente e emoções e pela conversão da linguagem e dos comportamentos com vistas à transformação do mundo.
TIPO DE SERMÃO: Expositivo
S.A. Se há algo que o evangelho realmente faz é mudar vidas! (Linthicum, p.315)
Uma das marcas da igreja é a santidade porque se trata de uma comunidade de santos e fiéis.
INTRODUÇÃO
A santidade é uma exigência para todos os que estão em Cristo que, efetivamente, são separados para a missio-Dei. A leitura de Efésios nos faz compreender o pensamento paulino acerca da conversão e da salvação em Cristo. Uma ilustração que proponho pode-nos ajudar a entender isso:
Então, podemos concluir que a santidade é o resultado da fé em Cristo, da conversão e do testemunho. Vejamos:
A presente seção diz que Paulo está orientando os irmãos da comunidade cristã em Éfeso a andar dignamente na sociedade. Conclui-se que suas orientações dizem respeito ao efeito da mentalidade de Cristo na vida da igreja e que essas indicações devem se constituir em práticas de transformação social. Então, a santidade adquire uma função missionária, pois ela alcança a vida de pessoas e promove o efeito salvífico de Cristo, isto é, o resgate da criação.
Diante disso, é possível dizer que cada cristão e cada comunidade devem expressar uma vida de santidade. Considerando essa orientação, pode-se dizer que há duas exigências para UMA VIDA DE SANTIDADE.
S.T.: Vejamos duas exigências de UMA VIDA DE SANTIDADE.
I –A CONVERSÃO DA MENTE E DAS EMOÇÕES (v. 17-24)
Nessa seção, a exigência é com respeito à conversão da mente e das emoções. A estrutura do texto nos permite identificar o sentido disfórico e o eufórico de cada seção. Vamos ler a primeira seção do texto:
17 Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos,
18 obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração,
19 os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza.
Os versos 17-19 caracterizam a exigência da conversão da mente e das emoções. Para entender melhor essa seção, faço uso da teoria semiótica com respeito ao enunciado dos estados de alma. Diz a teoria que um determinado personagem pode encontrar-se em um estado de posse, que caracteriza a euforia, ou em um estado de privação, que caracteriza a disforia. Diante dessa concepção, podemos dizer que a descrição dessa seção é disfórica (integram enunciados de privação) porque o apóstolo Paulo quer identificar os gentios. Parece que aqui Paulo faz uma crítica da cultura como em Romanos 1:24-31. A diferença é que nesse texto a ênfase recai sobre uma ação humana, ou seja, são os próprios efésios que se entregaram à impureza. Vejamos o gráfico:
Grupo social | ESTADO DISFÓRICO DE ALMA (PRIVAÇÃO - NEGATIVO) | ||
Gentios | 1. andam na vaidade dos seus próprios pensamentos; 2. obscurecidos de entendimento; 3. alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem; 4. pela dureza do seu coração; 5. têm-se tornado insensíveis; 6. se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza. | Figura | Tema |
O devasso e idólatra | A ignorância gera a ausência de santidade |
A próxima seção, dos versos 20-24, dá-nos um entendimento eufórico sobre o estado de alma dos cristãos. Parece que Paulo quer enfatizar a nova dimensão que os “efésios” ganharam ao “crer em Cristo”. Vejamos:
Grupo social | ESTADO EUFÓRICO DE ALMA (POSSE - POSITIVO) | ||
Cristãos | 1. aprenderam de Cristo que é a verdade; 2. Nele fostes instruídos; 3. renunciastes o passado despojando-se do velho homem 4. fostes renovados no espírito de entendimento; 5. fostes revestidos do novo homem, criado por Deus, em justiça, retidão e verdade | Figura | Tema |
O devasso e idólatra | A ignorância gera a ausência de santidade |
Ainda em conexão com a teoria semiótica, afirma-se que a narratividade acontece quando há a transformação de um enunciado de estado para outro, ou seja, de um estado de privação para um estado de posse. É mais ou menos quando dizemos “eu era assim, mas hoje sou assado” ou “eu costumava fazer isso, mas hoje não faço mais”. Então, essa metanóia, conversão, é uma transformação que ocorre na vida das pessoas.
A FÉ EM CRISTO é o enunciado de ação, isto é, o elemento que promove a transformação de um enunciado de estado de privação (incredulidade) para um enunciado de posse (credulidade). O mundo hoje ainda se encontra em um estado de privação. Há uma maneira mais prática de como podemos ver o resultado que há após o estado de alma eufórico. Há autores que consideram a vida em comunhão/comunitária como sendo o foco de uma conversão autêntica. Vejamos o que Linthicum afirma sobre isso:
Se há algo que o evangelho realmente faz, é mudar vidas. Devemos nos tornar novas criaturas em Cristo. É nossa vida em comunidade que mais nos sustentará enquanto vivemos. Ao contrário, a falta da comunidade irá causar erosão à nossa pequena fé. Sem a fé e a vida da igreja toda apoiando nossas confissões, seremos tentados a crer na mentira e a viver nossas vidas baseados no auto-interesse. Sem nossa prática de comunidade, não poderemos experimentar o cristianismo autêntico.
Diante disso, essa seção nos esclarece sobre a tarefa missionária para a igreja, a saber:
- Uma ação transformadora na mente e nas emoções
Por meiro da educação cristã:
- Na criação de estudos bíblicos promotores da libertação humana, ou seja, estudos que Eliminem a ignorância, o analfabetismo e a insensatez quanto à dinâmica da fé;
- Na criação de atendimento e aconselhamento pessoal, focalizando-se no tratamento dos traumas, dos ressentimentos e dos relacionamentos pessoais
- Na criação de ministérios específicos, tais como: descasados, pais solteiros, orientação misognômica e egodistônica;
- Uma ação transformadora no estilo litúrgico de ser cristão
Por meio da orientação pastoral nos cultos:
- Na elaboração de liturgias direcionadas ao ensino libertador; atentar para liturgias que obscurecem o entendimento dos cristãos
- No recrutamento de leigos para os cultos, principalmente com leituras, devocionais e testemunhos;
- Na conscientização de uma maior abertura às práticas de espiritualidades cristãs, tais como: devoção, contemplação, introspecção, meditação, adoração, etc.
- Uma ação transformadora na expressão comunitária
Por meio de um programa evangelístico, cuja ênfase seja:
- Anunciar a fé em Cristo como exigência indispensável à um novo eón (tempo)
- Estabelecer atividades de interatividade social (todos em Cristo são feitos um) promotoras da mudança de pensamentos
- Agir como agência terapêutica (curadora). A igreja é um lugar de vida.
Concluindo essa seção, uma vida de santidade é cumprida quando há conversão das mentes e emoções.
S.T.: Vejamos a segunda exigência de uma vida de santidade:
II – A CONVERSÃO DA LINGUAGEM E DOS COMPORTAMENTOS (v. 25-32)
Nessa seção, a exigência é com respeito à conversão da linguagem e dos comportamentos. Na verdade, trata-se de uma coleção de princípios de sabedoria (ditados, adágios, provérbios ou mesmo pequenas proposições) para a vida diária. A Bíblia de Estudos de Genebra e John Stott dão seis maneiras concretas de como os cristãos “despojam” a velha vida e se “revestem” da vida em Cristo. Sendo assim, vamos estudar cada uma dessas maneiras:
1. É necessário que se voltem da mentira para falar a verdade (v. 25)
25 Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros.
A mentira é o instrumento dominador de Satanás para aprisionar os indoutos. Geralmente, o mentiroso apossa-se de um código próprio lingüístico que determina a sua hermenêutica do que é verdade. Apologeticamente falando, a verdade se opõe à mentira porque deseja recuperar os valores da integridade moral e ética. Associada à mentira estão os elementos que dominam e oprimem: o sexo, o dinheiro e o poder (Richard Foster). Em palavras simples, falar a verdade é permitir que o Espírito tenha liberdade de agir na mente e promover a transformação do indivíduo. É lamentável que muitos grupos estejam vivendo baseados em uma grande mentira. Na comunidade cristã não há espaço para a mentira.
2. Da ira descontrolada para o domínio próprio (v. 26-27)
26 Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira,
27 nem deis lugar ao diabo.
Essa orientação emerge da tradição hebraica dizendo que há dois tipos de iras: a justa e a injusta. No entanto, nesse trecho é perceptível à menção de uma ira permissiva, isto é, podemos nos irar sem gerar em nós o pecado. John Sott, em seu comentário, traz várias referências bíblicas de como se processam essas iras. Entretanto, quero considerar aqui a atitude do comportamento em se colocar contra determinadas situações, mas sem ir contra a vida de alguém. Há um eco do Salmo 4:4 que diz respeito à lista dos sacrifícios dos capítulos 1-7 de Levíticos. Dentre esses sacrifícios, a retidão do piedoso era requisitada e a ira do ofertante era aceitável se fosse sem pecado.
3. Do furto para o trabalho honesto (v. 28)
28 Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado.
Essa recomendação é referente às práticas realizadas por cristãos da comunidade. Marcos A. L. Monteiro, em seu estudo sobre uma nova ética individual, confirma que as comunidades primitivas eram formadas basicamente por pessoas de classe baixa. Pessoas que tiveram experiências desastrosas e modos de vida reprováveis. Furtar era uma prática comum para os pobres da época. Paulo estabelece aqui como deve ser o comportamento do cristão, pois a fórmula em Cristo estabelece um entendimento de mudanças de hábitos. Adquirir indevidamente os objetos era um ato reprovável e somente através do trabalho é que a dignidade humana deveria ser estabelecida.
4. Da linguagem que destrói para a que edifica (v. 29-30)
29 Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.
30 E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção.
A linguagem possui tanto o poder de restauração quanto de destruição. Ela tanto informa a respeito dos procedimentos e atitudes cristãs quanto forma o indivíduo na prática de ser cristão. É lamentável que hoje muitos cristãos não depuram a linguagem como meio de comunicação informativa e formativa. Há expressões que são torpes (podres) e que, de fato, não colabora para nenhum desses aspectos.
5. Da amargura para o amor (4:31-5:2)
31 Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia.
32 Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou.
1 Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados;
2 e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave.
Nessa parte, o apóstolo Paulo advoga um princípio do ministério de Cristo, dos demais apóstolos e da tradição da igreja primitiva: amar uns aos outros como Cristo nos amou. Para vencer os aspectos negativos do comportamento e linguagem (amargura, cólera, ira, gritaria e blasfêmias), Paulo estabelece um código de virtudes a serem exercidas pelos cristãos. Todas essas características devem ser baseadas no amor:
o a bondade demonstrada no caráter gentil, amável, útil e amoroso;
o a compaixão como sentimento que descreve a capacidade de entender os vários tipos de pessoas;
o o perdão se torna regra para uma comunidade relacional (a ética dos relacionamentos).
6. Dos desejos sexuais desenfreados para um reconhecimento agradecido das boas dádivas de Deus (5:3-4)
3 Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos;
4 nem conversação torpe, nem palavras vãs ou chocarrices, coisas essas inconvenientes; antes, pelo contrário, ações de graças.
Convém dizer aqui que esses dois versos trazem como contexto a questão da sexualidade para os padrões cristãos. Naquela época, o sexo possuía outras qualificações, tais como:
o o sexo cultual
o o sexo vendido pelas meretrizes
o o sexo doméstico
Aqui o apóstolo quer endereçar a questão da sexualidade com a prática de uma nova dimensão: a vida sexual entendida como projeto (bênção) de Deus. Então a cobiça, a impureza, a imoralidade e avareza não coadunavam com “ações de gratidão” a Deus.
Diante da exposição dessas seis maneiras de entender a exigência da conversão da linguagem e comportamentos, proponho a tarefa missionária da igreja hoje:
1. Uma ação transformadora da linguagem
Por meio de um projeto ético, a comunidade cristã deve:
- Ignorar o “igrejês” como paradigma de comunicação cristã, e abrir espaços da comunicação de grupos variados na evangelização;
- Estabelecer a prática da verdade como ação libertadora do ser humano, reconhecendo-a como palavra profética contra a ignorância promovida pelo diabo. Enfatizar estudos sobre o valor da verdade na prática cristã;
- Criar laboratórios de análise transacional (conversação) de auto-conhecimento individual ou em grupos, permitindo que as pessoas verbalizem suas dúvidas, questionamentos e interrogações;
2. Uma ação transformadora do comportamento
Por meio de um projeto disciplinar, a comunidade cristã deve:
- Enfatizar o arrependimento como base de cura para a vida;
- Estabelecer o perdão como regra restauradora para a disciplina;
- Considerar modelos e recursos diversos disponíveis à aplicabilidade de ações libertadoras dadas pelo perdão;
- Diferenciar a “essência do evangelho” e “essência da lei”, ou seja, o que a Bíblia permite a igreja proíbe;
- Ajudar na conscientização de uma sexualidade humana, sadia e abençoada por Deus.
3. Uma ação transformadora baseada no amor
Por meio de um projeto de missão redentora, a comunidade cristã deve:
- Identificar os grupos marginalizados e exercer-lhes o amor de Cristo por meio de mecanismos de inclusão e libertação;
- Expressar a praticidade do amor de Cristo por meio dos ministérios: pessoal, diaconal, institucional e governamental;
- Celebrar comunitariamente práticas da ágape cristã: louvor, batismo, casamento, comunhão, etc.
Por meio dessas ações, a conversão da linguagem e dos comportamentos promove a santidade cristã.
CONCLUSÃO
Para concluir minha proposta em “UMA VIDA DE SANTIDADE”, reconheço que a orientação paulina se torna contextual e relevante. Nossa missão não é somente acrescentar números de confessos e convertidos ao rol de membros. É, sim, entender a santidade deles e promovê-los a um bem-estar com Cristo. É torná-los conhecedores da graça santificadora de Cristo em suas vidas.
Meu entendimento sobre ações pastorais e missiológicas para a santidade na vida do Cristão é a mesma dada por Paulo. É a adesão à fórmula dada no início desse sermão: Fé em Cristo, conversão e testemunho. Não há livros de regras de santidade, não há oração santificadora mágica, não há homem de Deus ou mulher de Deus que têm 100% de santidade como algo imaculado, imarcescível. O que existe são pessoas em constantes transformações, pessoas que se dispõem na mão do Senhor, pessoas que são sensíveis à sua graça.
Pessoalmente, enxergo a santidade como níveis de maturidade na vida cristã. E também enxergo que há níveis de santidade que são revelados por Deus. Alguns desses níveis são revelados somente com a idade, alguns são revelados através de experiências amargas, duras de se aceitar, mas ainda são dadas por Deus. E há níveis que são revelados especificamente para homens com visão, de sonhos, de projetos, de ousadia, de intrepidez...
O meu nível de santidade está vinculado à minha compreensão de fé em Cristo. Quanto mais eu o conheço, mais me sinto separado para sua missão. Entretanto, não arrisco minha santidade em pré-julgamentos ou condenações. Pessoalmente, Cristo tem me revelado uma vida de absolvição, de amor ao próximo e de compaixão. Não existe em minha vida cristã, a condenação. Existe, sim, o amor de Cristo revelado. Quem não tem pecado, que atire a primeira pedra...