segunda-feira, 27 de abril de 2015

Caçando a felicidade





A felicidade é uma frequente busca. É como a caça ao tesouro perdido. Ou ainda, é a utopia das emoções paradisíacas. Ela não é algo inconquistável, mas várias batalhas de uma única guerra. Cada um de nós é como soldado alforjado em busca de ações que nos dê a sensação de prazer, conquista, poder, satisfação e realização. A busca, então, é a caça que fazemos diariamente para afirmar que estamos felizes. 


Ser feliz não é só uma sensação do estado de espírito. É a consciência de que estamos batalhando em trincheiras, nas quais, muitas vezes, é o tipo de luta que precisamos para ganhar a felicidade. Por exemplo, o emprego que almejamos, mas que será conquistado por meio de concursos. Por mais que hajam vagas, a luta é sempre pelo extermínio de outros. De fato, a minha felicidade não é porque passei, mas porque consegui eliminar muitos... Emprego é a ilusão da caça que se faz pelo ideal de felicidade.


Outra batalha a ser vencida é a do dinheiro. Diz-se que o dinheiro compra a felicidade e, sendo assim, cada um de nós tem um preço. Há uma música que diz sobre as pessoas procurando a “etiqueta de preço” (Price Tag) porque julgam que as vendas vêm em primeiro lugar. O que dizer disso? Só posso afirmar que, devido à essa metodologia do pensar, as exigências éticas foram totalmente ignoradas e a verdade vem sendo negligenciada. O futuro será aquela sociedade na qual cada cidadão é identificado pela etiqueta de preço. Neste sentido, a felicidade é uma etiqueta cujo preço é marcado pela ausência da ética.


E o que dizer do amor? Esse sim é o objetivo da felicidade. Falo do amor erótico, aquele que sentimos a paixão como diretriz da vida! Esse tipo de amor se contrapõe ao faz emergir as sensações de realização, conquista e, acima de tudo, poder. Neste sentido, o “poder” é sinônimo de “dever”. Todo mundo deve ser feliz, cada um com dimensões diferenciadas, mas todos têm tal direito. A felicidade é significativamente as dinâmicas do amor. A satisfação ou realização é a caça que precisamos prender e saciar-se dela. Os depressivos sofrem desesperadamente porque não conseguem definir a caça do amor.


Há outras batalhas precursoras da felicidade, todavia quero falar sobre a luta dos relacionamentos. Essa é indiscutivelmente a mais difícil. Pessoas se relacionam entre si por causa de minuciosos jogos de interesse. A batalha consiste justamente na identificação objetiva de cada um desses jogos. A pessoa que está contigo pode te trair e fazê-lo “perdedor” durante e no final do jogo. Os relacionamentos são descrições de contratos sociais, através dos quais são percebidas as lacunas de suspeições, atrevimentos e impensáveis dissoluções da parceria. Neste sentido, a união de pessoas não é a melhor forma de felicidade, mas a intensidade e as provas que um pode demonstrar para o outro. Os infiéis exemplificam o porquê da felicidade nos relacionamentos ser uma catástrofe. Talvez, a busca pelos relacionamentos esteja no encontro de si mesmo e na disseminação da alegria interior ser projetada para o alcance de outros. Ninguém amará o próximo se a si mesmo não julgar-se a potência da relação feliz.


Quero terminar, considerando que a garantia da vida é como sendo a caça frequente que fazemos para ser feliz. Uns encontram-na posição que exercem pelo trabalho. Afinal, a qualificação profissional é a prova do emprego conquistado. Quem é “formado”, mas não exerce a profissão, acaba frustrando-se. Quem já conquistou, vive na busca incansável de “defender” o território. E há outros que têm na avareza a sutil e inócua garantia da felicidade. São os consumidores viciados no ganho e uso do dinheiro. Também são os emissários do diabo nas estratégias da compra e venda da alma humana. E há também os iludidos pela busca afrodisíaca da eroticidade, da paixão, da carne, da libido – esses representam o devaneio dos desejos desenfreados. Hoje, a sociedade é o caos da libido sem freio. Por fim, há os que destinam-se para o outro. É a alteridade impondo as regras do jogo: ser feliz consigo mesmo para que o outro se contagie e seja alcançado por ti.
 
Agora vou sair. Vou à caça. Quero ser feliz e devo ser feliz!