A felicidade é uma frequente busca. É como
a caça ao tesouro perdido. Ou ainda, é a utopia das emoções paradisíacas. Ela
não é algo inconquistável, mas várias batalhas de uma única guerra. Cada um de
nós é como soldado alforjado em busca de ações que nos dê a sensação de prazer,
conquista, poder, satisfação e realização. A busca, então, é a caça que fazemos
diariamente para afirmar que estamos felizes.
Ser feliz não é só uma sensação do estado
de espírito. É a consciência de que estamos batalhando em trincheiras, nas
quais, muitas vezes, é o tipo de luta que precisamos para ganhar a felicidade.
Por exemplo, o emprego que almejamos, mas que será conquistado por meio de concursos.
Por mais que hajam vagas, a luta é sempre pelo extermínio de outros. De fato, a minha
felicidade não é porque passei, mas porque consegui eliminar muitos... Emprego
é a ilusão da caça que se faz pelo ideal de felicidade.
Outra batalha a ser vencida é a do
dinheiro. Diz-se que o dinheiro compra a felicidade e, sendo assim, cada um de
nós tem um preço. Há uma música que diz sobre as pessoas procurando a “etiqueta de
preço” (Price Tag) porque julgam que as vendas vêm em primeiro lugar. O que
dizer disso? Só posso afirmar que, devido à essa metodologia do pensar, as
exigências éticas foram totalmente ignoradas e a verdade vem sendo negligenciada. O
futuro será aquela sociedade na qual cada cidadão é identificado pela etiqueta
de preço. Neste sentido, a felicidade é uma etiqueta cujo preço é marcado pela
ausência da ética.
E o que dizer do amor? Esse sim é o objetivo
da felicidade. Falo do amor erótico, aquele que sentimos a paixão como diretriz
da vida! Esse tipo de amor se contrapõe ao faz emergir as sensações de
realização, conquista e, acima de tudo, poder. Neste sentido, o “poder” é
sinônimo de “dever”. Todo mundo deve ser feliz, cada um com dimensões diferenciadas,
mas todos têm tal direito. A felicidade é significativamente as dinâmicas do
amor. A satisfação ou realização é a caça que precisamos prender e saciar-se dela.
Os depressivos sofrem desesperadamente porque não conseguem definir a caça do
amor.
Há outras batalhas precursoras da felicidade,
todavia quero falar sobre a luta dos relacionamentos. Essa é indiscutivelmente
a mais difícil. Pessoas se relacionam entre si por causa de minuciosos jogos de
interesse. A batalha consiste justamente na identificação objetiva de cada um
desses jogos. A pessoa que está contigo pode te trair e fazê-lo “perdedor”
durante e no final do jogo. Os relacionamentos são descrições de contratos
sociais, através dos quais são percebidas as lacunas de suspeições,
atrevimentos e impensáveis dissoluções da parceria. Neste sentido, a união de
pessoas não é a melhor forma de felicidade, mas a intensidade e as provas que
um pode demonstrar para o outro. Os infiéis exemplificam o porquê da felicidade
nos relacionamentos ser uma catástrofe. Talvez, a busca pelos relacionamentos
esteja no encontro de si mesmo e na disseminação da alegria interior ser projetada
para o alcance de outros. Ninguém amará o próximo se a si mesmo não julgar-se a
potência da relação feliz.
Quero terminar, considerando que a garantia
da vida é como sendo a caça frequente que fazemos para ser feliz. Uns encontram-na
posição que exercem pelo trabalho. Afinal, a qualificação profissional é a
prova do emprego conquistado. Quem é “formado”, mas não exerce a profissão,
acaba frustrando-se. Quem já conquistou, vive na busca incansável de “defender”
o território. E há outros que têm na avareza a sutil e inócua garantia da felicidade.
São os consumidores viciados no ganho e uso do dinheiro. Também são os
emissários do diabo nas estratégias da compra e venda da alma humana. E há
também os iludidos pela busca afrodisíaca da eroticidade, da paixão, da carne,
da libido – esses representam o devaneio dos desejos desenfreados. Hoje, a
sociedade é o caos da libido sem freio. Por fim, há os que destinam-se para o
outro. É a alteridade impondo as regras do jogo: ser feliz consigo mesmo para
que o outro se contagie e seja alcançado por ti.
Agora vou sair. Vou à caça. Quero ser feliz e devo ser feliz!