Amanhã, deixarei
que me abram para que vejam aquilo que já sei. Afinal, os alquimistas conseguirão
entender o que significa religiosamente viver a esperança dos sufrágios. Neste
sentido, “abrir-se” é como uma desvelação humana, é como sair da existência
para entrar na essência. O objetivo último de todos nós é tornar-se essência
com o Numinoso. Não precisamos de diagnóstico, mas de diretrizes que nos
colocam no caminho da eternidade. Ao deitar-me na maca, como cobaia da
dessecação, serei corpo inerte, sem ação, sem vontades, mas estarei vivo porque
artificialmente serei sustentado por máquinas e eletrodos. Estes últimos serão
sensores, indicando minha existência... Porquanto, na anestesia do corpo,
sentirei o silêncio ausentando-se da vida e presenciarei a chegada do aguilhão.
Por isto quem
antecipa a intimidade com o Grandioso é, sem dúvida, os que já não conseguirão
mais gozar desta felicidade carnal, nem desta nuance terrena de euforias
sexuais e, nem mesmo dessa mistura de fluídos seminais e, muito menos ainda,
dos sentimentos deleitosos. Eles são os que entenderam a missão sem fim, aquela
missão que nunca atinge o alvo, nem cumpre profecias, nem realiza sonhos. Mas
uma missão que inaugura novos alvos, novos desejos, novos sonhos, enfim, novas dimensões.
A futuridade sempre se inicia com o fim dos guerreiros bravos, destemidos e
fiéis. O único combate conquistado é o da fé: afinal, sem ela nem o amor próprio
é conquistado, apenas se torna ludibriador das emoções e dos sentimentos.
E, como já
disse, preciso ser aberto para ser revelado. Não é fácil ser transparente em
mundo de opacidade. Não é vantagem querer ser feliz se o ambiente é de
sofrimento. Nem é bom para a alma amar alguém que sempre irá te rejeitar. A
transparência é a ilusão dos que buscam a verdade através dos comportamentos. “Quantos
são os portais de transparência se é a corrupção quem faz iludir a própria
verdade”? Para mim, a transparência é a satisfação plena que tenho, quando
sei que há alguém em quem eu possa depositar todas as minhas inquietações: esse
alguém sempre será o foco da minha verdade, da minha alegria e do meu amor.
Transparência é a essência da felicidade, da verdade e do amor.
Todavia, há
alguns que foram iludidos pela falsa transparência. Não se contentam com o meu
testemunho. Eles precisam me abrir para encontrar as vísceras, as veias e os
músculos. As vísceras, porque querem mexer nelas e fazer-me sentir o opróbio
dos mortais. As veias, porque sabem que sou energizado pelos fluxos que
dinamizam todo o meu organismo. E, dos músculos, porque querem me machucar,
costurar, marcar, perfurar e desenhar. Tenho sido os “pings” e “pongs” das buscas
pela transparência. Meu corpo é o fascínio de que há algo sobrenatural, enquanto
minha alma é a secreta volição de minha essência. E o meu espírito, que diz-me
acerca da eternidade, já vem dando-me a compreensão de que os axiomas dos que
me rodeiam são “temporais”. Afinal, a minha competência foi compreendida como
inimiga das vantagens e oportunidades. Eles não podem agarrá-las, e também não
permitem que eu as tenha.
Neste sentido,
quando me abrirem, vão encontrar um espelho. Não o de Machado. Meu mesmo. Um
que não refletirá a imagem, nem a essência, mas a autoimagem. Afinal, a transparência
é o reflexo de si mesmo, conquanto nele mensura-se os valores que hão perpetuar-se
eternamente.