Voltar é girar. E, se o giro é para
esquerda ou direita, não importa a direção, o importante é sempre estar em
movimento. A vida pode até dar uma parada, mas a engrenagem tem que continuar.
Girar é para os que sabem lidar com os movimentos. E, em cada molejo, há
oportunidades; sejam elas boas ou ruins, pois é o movimento que dá o ritmo de
nossas conquistas, bem como impulsiona-nos aos novos desafios. Há, sim, os que
querem girar para a conquista dos resultados sem esforços, aqueles disfarçados
de prosperidade - aliás, biblicamente falando, os da "luxúria". Esses
são os hipócritas da fé, não admitem a graça vivificante da vida simples ou da
alegria com o pouco. E, há, também, os que giram na dinâmica do sofrimento
gracioso, aqueles que se tornam dia a dia os mártires da fé. São os milagreiros
da vida: são os que abundam na dádiva do perdão e da diaconia.
Voltar é recomeçar. Recomeçamos porque
precisamos conhecer a experiência do aprendizado pelo erro. Sim, pelo erro.
Errar é a maneira pela qual as tentativas podem ser diferentes em cada
recomeço. É assim que exatamente acontece na vida dos relacionamentos: acabamos
para recomeçar... Recomeçar é olhar diferente para a situação, para a pessoa e
para a lição não aprendida ainda. É, infelizmente, recomeçamos porque a lição
ficou inacabada. É como esquecer a sequência de uma senha e acharmos que o erro
está no sistema. Muitas vezes, o perdão
não é a melhor maneira de recomeçar, e, muitas vezes, “dar uma segunda chance”
é iludir-se com a terapia do tempo. Devemos acreditar no recomeço porque,
embora ele frustre-nos, ele ainda prova a nós mesmos que somos capazes de
redenção e reorganização dos sentidos da vida. Afinal, recomeçar é viver a
mesma situação com intensidades diferentes. Recomeçar é somente para os que têm,
na esperança, a convicção da conquista e a antecipação da recompensa. É assim
que a fé na Vida tem nos ensinado, e é assim que devemos entendê-la.
Voltar é lembrar. É fazer o uso da memória.
Refere-se à ação de lidar com o passado, justamente com aquelas situações quando
as oportunidades foram equivocadamente interpretadas. Não é uma atitude fácil,
pois requer mudança de “racionalizações” (ou leituras cognitivas diferentes). Geralmente,
o passado é um tempo que queremos esquecer, porque o associamos com as mágoas,
as angústias e os sofrimentos. Todavia é no passado que reside a lição com a
qual iremos formar ou antecipar nosso futuro. Nesse caso, as lembranças são as ferramentas
para a narrativa do reconto. Recontar é dar novo sentido às “telas”, às “figuras”,
às “imagens”, aos “monstros”. A memória é o arquivo “indeletável”. Apagar as reminiscências não é sinônimo de cura, mas
imaturidade. A memória é como o relógio da alma: os ponteiros marcam sempre a
mesma batida, anunciando a imagem projetada na consciência. Vivamos, sim, com o
passado em mente, a fim de garantirmos um futuro na alma.
Voltar é repetir. Refere-se à habilidade de
ser automático ou instantâneo e, infelizmente, à estupidez humana. Isso
acontece porque, a maioria das atitudes é “eu já sei isso”, “já passei por isso”,
“sei exatamente o que vai acontecer”, enquanto deveria ser: “o que posso
aprender de novo “novamente” (sic). Certamente repetimos quando queremos rever
processos e também queremos investigar os detalhes das experiências. Repetimos
o beijo porque queremos presenciar sensações diferentes; repetimos o sexo
porque experimentamos, no êxtase, o clímax do gozo pela vida; repetimos a
leitura porque queremos ser enlevados na consciência; repetimos as orações
porque cremos no regozijo do espírito; repetimos os exercícios porque ansiamos
a saúde e cultuamos a estética corporal; e repetimos a prole porque cumprimos a
missão da posteridade eterna. Repetir é sujeitar-se à dinâmica das
tentativas... Isso fazemos constantemente; precisamos repetir para saber que a aprovação
não foi engano.
Vou girar porque preciso repetir a
lembrança do aprendizado.