domingo, 23 de julho de 2017

Pra Sempre


O girassol não é apenas a flor, recheada pelas pétalas e dezenas de sementes. Nem tampouco refere-se às ações de movimentos do astro-rei, alimentado o universo com seus raios e tornando-se as bioquímicas da energia produtora de outras biossínteses. Ele representa as dinâmicas da vontade de viver e os conflitos do medo de morrer. Afinal, o ser humano é vocacionado a experimentar a bênção de respirar e ser alma vivente, contudo sofre porque é consciente de sua brevidade neste mundo. 

Como ato divino, a experiência de conhecer, decidir e sentir adentra-se às fases através das quais cada ser vivo é destinado. Uma dessas fase é a do ser humano realmente vir à vida, com dores, choros, fome, constrições e descobertas. Cada desenvolvimento, passos da aprendizagem evolutiva da espécie, é uma relação de conhecimento, sabedoria e praxiologia. Conhecer significa matricular-se na universidade dos porquês em busca do entendimento acerca das funcionalidades. E o saber requer a especialização sobre as dicotomias que tornam cada assunto funcional, prático e contextual. O girassol é uma representação da fase do conhecimento, pois, através do desenvolvimento, faz o ser humano entender a função do viver como ser humano!

Segue-se à esta fase a de autocompreender-se e interpretar a missão de ser alguém neste mundo. É neste sentido que a tomada de decisão refere-se à complexidade das incertezas, dos conflitos, das negações e das biases. A volição é uma importante ferramenta para todos, ela é pacificadora, revolucionária e altamente violenta! Destina-se às escolhas que são feitas durante o desenvolvimento de ser alguém: as escolas, as amizades, as profissões, as religiões, as férias e, biologicamente falando, as paixões. Decidir sobre determinadas situações não é algo fácil, mas é preciso fazê-lo! Há sim lutas internas quando teme-se acerca das consequências, no entanto a decisão é um remédio preventivo. Não cura, mas alivia os sintomas. A decisão só é terapêutica quando ela é politicamente a favor da vida, expressão máxima da vontade de Deus. O girassol é um arquétipo das decisões a serem tomadas, em cada movimento enxerga diferentes perspectivas do cenário maior. Vive-se melhor, movimentando-se!

E, por último, há a fase intuitiva e instintiva de perceber a sensibilidade da vida, bem como da morte. Cada ser humano experimenta as sensações das “inas”: endorfinas, adrenalinas, serotoninas, entre outras. Todavia, é na experiência da psique, ou melhor, na percepção dos sentimentos e das emoções, que habita a estética da felicidade e da finitude da vida. É o momento do coração e da mente duelarem-se com o objetivo de tornar prevalente a missão de existência do ser. É, pois, assim que entende-se a eternidade do ser: “pra sempre”. Eis porque cada sentimento possibilita sensações diferentes. Na verdade, cada sensação deveria ser interpretada duplamente: uma para o momento, aquela que conduz à euforia, à felicidade, à alegria e à satisfação, enquanto a outra é para a ausência destas percepções e para a indução às antagônicas, ou seja, à antecipação da morte. O girassol prefigura os sentimentos da eternidade, conquanto a partir de um único girassol perpetua-se dezenas de outros mais, e assim por diante. Mas para viver eternamente, é preciso passar pela experiência da finitude! A fé é o veículo que garante esta passagem.


Enquanto ser humano ou alma vivente é preciso alimentar-se integralmente do conhecimento, das decisões tomadas e dos sentimentos percebidos. É necessário ter “bem clara e definida” a missão de existir eternamente. Pois é sem medo de errar que aproxima-se da coragem de acertar; bem como é com a vida que são vencidos os obstáculos da morte. É sim com o amor que derrota-se o mal, e é pela esperança que acredita-se na redenção! E foi pela cruz que a pedra foi removida! O girassol não é presságio da loucura van goghiana, mas do tempo e do espaço que a vida e morte humana acontecem.