segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Euforia


Tarde difícil de aguentar. Calor infernal
Desci às águas rumo à bacia artificial
Outros já estavam lá, em festival
Então fiquei só, em estilo perimetral

De repente, trovoadas anunciaram
O perigo iminente de gestos que revelaram
Cinco, não. Seis, não. Sete ao todo se entregaram
Às brincadeiras pueris, todos saltaram

Você chegou a mim e fitou-me com singeleza
Disse-me com voz suave em tênue delicadeza
Veio o anúncio do término - olhos em tristeza
Com pressa, subimos as escadas com firrmeza

Lá, houve a cumplicidade dos corpos
Lá, existiu a fidelidade dos mortos
Lá, teve a minuciosidade dos copos
Lá, esteve a complexidade das fotos

Cá, ficou a sujeira dos transeuntes
Cá, permaneceu a magia dos duendes
Cá, sustentou-se o cerume dos maldizentes
Cá, solidificou-se os fluídos dos clientes

Noite aumentou-se com novo grupo
Chuva, trovões e pessoas sem guarda chuva
Ruas públicas sendo vistas como dedos em luva
Denunciavam garrafas de águas em luto

Cheguei e adormeci
Acordei e entendi
Suspirei e venci
Troquei-me e parti

Viver é alegrar-se nos sonhos!

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Olhar fotográfico


É duro ficar com dúvida
Em ti não há nenhum sinal
Apenas fico pensando no final
Por uma ação súbita

Dizem que caolho é rei
Em terra de cego. Isso eu sei
Mas nem mesmo ganhei
Um clique seu quando te olhei

Estou aqui todos os dias
Esperando pelas tuas manias
E te ofereço as mordomias
E ser parte de tuas correrias

Estúdio são vários
Revelações são sérias
Desvendamentos de aquários
Descobertas de misérias

Tire-me a imagem, mas não o suspiro
Tire-me a estética, mas não o que respiro
Tire-me a virtude, mas não o que sinto
Tire-me a verdade e anule o que minto

Um dia te conhecerei em foto
Porque pessoalmente será perigoso
Percorrei todo o seu ser melindroso
E te olhando em quadro, direi: "tu és o meu foco"

Publico aqui porque não somos amigos
Aqui é como lugar seguro, verdadeiros abrigos
Vai, aceita-me. E, então, faremos juízos
Porque é capital amarmo-nos sem prejuízos

Ninguém irá te descobrir
Senão eu que tenho que evadir
Tua felicidade virá quando eu abrir
O céu e o coração - juntos a dividir

Não me olhe, nem me fotografe. Ame-me.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Fresta




Abro a janela e vejo que você está me observando
Todos os dias, tenho que me valorizar para ti me desnudando,
Pois a visão de minha pureza é prova que está me conquistando
E assim vão-se os dias e finais de semana me contemplando.

Pena que a ilusão é o sonho que não se realiza
Faz-nos fugir sempre da utopia, cuja dor nem ameniza
De quem deseja encontrar-se com a alma precisa
E consumar a emoção que faz a carne adoecida

É fácil resolver essa situação: vamos quebrar o protocolo
Afinal, amar é como criança querendo colo
Ou seja, sair de casa, pular as regras, pessoas a tiracolo
E fazer tudo acontecer: subir ao céu, saindo do solo

Mas não é assim que a vida funciona
Pois em todo grupo há sempre convenções a seguir
Somos humanos e precisamos aos desejos suprimir
E viver a vida como: o suspiro que aciona

Sabe o que é uma fresta?
É uma oração feita no abismo
É o apocalipse de cataclismo
É a fenda da nossa festa!

Então te espero na surdina
Nos interregnos da nossa buzina
Eu fecho, você abre. É a sina
Do amor e do amar que se destina

Não quero te tocar e nem quero ser tocado
Quero, apenas, sentir a essência do esperado
Sentimentos que hão de ser eternos: aqueles pensados
E viveremos, sim, distantes, mas sempre um ao outro atados

O amor é um fresta que se abre para a janela das descobertas!

domingo, 8 de dezembro de 2013

Deixar a existência e virar essência


Um dia atendi o telefone e tive tremenda surpresa
Um "oi" amigo cativou-me, fazendo voar em manto turquesa
Convidou-me a ser amigo a distância como relação de pobreza
Fui sendo seduzido pelas conversas diárias, "eu seria a presa"

Então fui festejar com os amigos: petiscos, gente e bebida
Veio a mensagem, pedindo-me presença naquela subida
Saí por uns momentos e fui falar contigo, dando-lhe guarida
Na conversa, combinamos sair noutro dia, data comprometida

Foi no centro de compras, o melhor da cidade
Ainda tivemos contratempos, perdidos na urbanidade
Lojas, corredores e multidão: complexos da localidade
Finalmente, encontramo-nos na Livraria da Felicidade

Capucino é meu "drink" predileto: o seu foi só um suco
Em cada gole, o desejo de conhecer-te mais a fundo
Por isso, tempo é para diálogo para dar-se a conhecer ao mundo
E contratempo são os rudimentos que nos tornam em muco

Então descemos e fomos ao reduto das contemporaneidades
Lá houve o que mais temíamos: a relação de cumplicidade
Entrega foi de livre aderência e total assertividade
Resolvemos revelar as tênues e diversas complexidades

Três dias depois, novo telefonema: o vermelho de Moscou soou
Não é comunismo, nem tampouco Marvel Comics. Trim-trim ecoou
Ao atender, fui encostado à parede: "Fica comigo"! Mente voou
Então, disse sim para aprender a amar. Nova etapa de vida começou

A cada dia, relação intensa das conversas intermitentes
Devaneios e conquistas das emoções que só têm nas mentes
Quem já foi feliz na alma, deseja agora os clímax frequentes
Finais de semanas sempre a promessa de celebrações constantes

Durou por seis, menos dois, sobram quatro de estações
Não sou de primavera, nem de verão, mas de emoções
E o inverno e o outono se transformaram em dor nos corações
Quem desiste da graça de amar, vive no inferno das solidões

Foi assim, tem sido assim e só vai mudar quando um de nós inexistir!

Prá que te amar?



Para que entregar-se ao amor
E viver na expectativa da felicidade
Se ele vai me deixar, só de maldade
Provocando-me intensa sofrida dor?

Foi assim que aconteceu: o mundo me conheceu
Virei bobo e fiquei à mercê do Senhor Não Entendeu
Na dimensão das paixões, os tontos são pigmeus
E na dimensão das contradições, os sábios são ateus

Família veio ser um problema para nós
E os teus amigos, que não te aceitam, são nós
É como calça larga que não pára, sem cós
Não sabem da relação. Eles a enfeiam, sem voz

Ser alguém é assumir a relação que encanta
Mesmo que ela seja primitiva, em busca do Elo Perdido
Pois aquilo que se rejeita, vive-se no idílio aturdido
Ter alguém é consumir o ato, quando se levanta

Vou eternizar-me, sublimando o desejo de ser rejeitado
Vou angustiar-me, deflorando a ânsia de ter sido enterrado
Vou alegrar-me, celebrando o ímpeto de haver ressuscitado
Vou ascender-me, iluminando as ideias de estar glorificado

Naquele dia você se chegará a mim, mas não te amarei
Estarei com muitos que me aceitaram, e com eles festejarei
Você, infelizmente, não terá lugar, será a vítima que gozei
Porque a morte não apaga a mente, mas o corpo que cativei