sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A lógica espiritual do tempo


Se pudéssemos entender a magia do tempo, controlaríamos a ansiedade. Curaríamos os males sociais e promoveríamos a redenção de toda a criação. Saberíamos antemão a derrocada vinda messiânica e prepararíamos comitivas de recepção e celebrações simultâneas nos quatro cantos da terra. Atingiríamos o epicentro cósmico e deflagraríamos o segredo da energia. Teceríamos as unidades épocais dos acontecimentos e mudaríamos a periodicidade da História. Anteciparíamos o surgimento da escrita e adiaríamos a explosão nuclear de bombas, usinas e armas. Venceríamos as frustrações e desilusões apenas com o clique do cancelamento e ou pela alteração de acontecimentos. Contaríamos as narrativas em tempos não verbais, mas qualificativos: o tempo passado se chamaria aprendizagem, o tempo presente se chamaria desafio e o tempo futuro se chamaria transformação. 

"Estudei Letras e Teologia. Tenho regido aulas de teologia e ouso escrever minhas reflexões. Muitos também têm seguido meu caminho".

O parágrafo acima sintetiza o que quero dizer. O passado é o tempo de minha aprendizagem, o momento em que pude ser confrontado com novas possibilidades do saber. Conhecer é entrar no bosque da criação, ser sensível à percepção, decrifrar os códices da sensação, criterizar os rumos da reflexão, detalhar a descrição e grafar a cognição. É dominar os "ãos" do passado. Aprendemos porque sabemos dominar. O segredo do ensino e da aprendizagem é quando o "novo" se torna velho, o "desconhecido" conhecido, e o "moderno" antigo.

O presente nos motiva a entrar na batalha da vida e a superar os conflitos. O desafio representa nossa contemporaneidade. Vivemos porque é hoje, é agora, é aqui... É o tempo das "mãos no arado", da fadiga e da produção. Somos guiados pela execução de tarefas em frações de tempo. Caminhamos com prazos definidos. Fomos gerados pela tecnologia cibernética. Somos avaliados pelos resultados profissionais e mantidos no mercado pelos títulos de especialização. Havemos gratificados pelos atrativos de cargos e salários. Percebemos que o progresso é ilusão. Mesmo assim, "ideologia, eu quero uma pra viver". Anulamos a utopia. Mesmo assim, vivemos a realidade, pois "é preciso saber viver".

O futuro é o palco dos grandes espetáculos! É o clímax da realização humana. É a projeção de nossa maturidade, o ápice das apoteoses. Desfilamos com nossas coroas: profissão, cônjuge, prole, imóveis e posições. Tornamo-nos políticos sobre intereses sociais. Eliminamos as dificuldades e aprendemos a contar as vantagens. Enumeramos os feitos e nos esquecemos dos imprevistos. Voltamos a enfatizar a esperança e somos vistos como sábios. 

Em um contexto secularizado, diria que a economia, baseada na produção e comércio, é a atual responsável pela dinâmica do tempo. Em ambientes religiosos, afirmo que é a espiritualidade, inteiramente influenciada pelas teologias ufanistas de prosperidade, cura divina, misticismos pagãos, fanatismo, intolerância e conservadorismo acrítico, a perpetuar distorção sobre o eón cristão. Em situações existenciais, julgo que é a ausência de humanismo e socialização, caractetística marcadamente pós-moderna, a ré indiciada em julgamento pelo extermínio do tempo. 

A solução é adotarmos uma prática redentora do tempo. Quem não aprendeu, pode começar a ser ensinado agora! Aos que sentem desafiados, unir-se e buscar parcerias é ser sábio para vencer. No porvir, grandes transformações surgirão e serão marcos de que houve a redenção do tempo.

Aos que apreciam Teologia, História e Filosofia, minhas últimas palavras: já pensou entender o Espírito como o tempo em sua vida? Ele ensina, pacifica e transforma.