quarta-feira, 5 de junho de 2013

Flor sem jardim

 
A vida deixou de ser jardim porque não nos contentamos fincar raízes
Antes, queremos ser pássaros para voar sem direção, sem pouso
É o vício das juventudes que se recusam a observar altivas matrizes
A maior dificuldade é deixar de ser galinha e virar águia em gozo 

A vida também não é flores porque deixamos de ser vaso
Sem cuidado, ela murcha e seca - não há renovação
Bulbos não são só sementes. Família não é sêmen ao acaso
Flor é a metáfora da estética viva como depósito para plena redenção

A vida é a essência dos segredos disfarçados de humanidade
Infelizmente buscamos a realidade de valores com termos
Tais segredos só se revelarão quando formos uma só irmandade
Ou melhor, quando todos eternamente adormecermos 

Por isso a vida é, para mim, a potencialidade da ressurreição
Sou flor porque sou húmus a ano, Deixarei de existir para o pecado
Sou figura visível, pura física socrática, devir essência divinização
Só débil logra-se com argumentos insensatos. "Tá lesado"

Não me julgue se sonho com a imortalidade da minha essência
Lá, no Limbus, hão de procurar flores, eu encontrarei amores
Minhas ações deixarão de ser escândalos e serão clemência
Porque no transporte ao Caelum, aliviarei teus grandes temores

A vida só tem sentido em companhia, a existência em harmonia com ela
Por isso quero exterminar essa angústia de solidão, minha partida se aproxima
Vou voar e aqui não mais pousarei. É nos ares que te esperarei como chama de vela
A flor já morreu, a vela já apagou. O jardim foi destruído. Espero-te lá em cima.