quinta-feira, 27 de junho de 2013

Bulbo não é bobo!


Sempre que chove, vou ao meu jardim
Aproveito que a terra está macia, sim
Mexo em todos os canteiros, do começo ao fim
Tento encontrar o bulbo que ali deixei para mim

Ai, só espero a estiagem e vê-lo germinar
Duas pequeninas folhas começam a aparecer
Afinal, terei esperanças de contemplar novo ser
Em poucos dias, o bulbo há de crescer e brotar

Também é assim no amor
Plantamos e esperamos vê-lo crescer
Mas vem a separação em dor
Morremos e velamos ele desaparecer

Hoje chove muito mesmo
Mas não tenho mais jardim
É que preferi ficar a esmo 
Sem canteiro, sem pá, sem mim

Decidi não ter jardim com perfeição
É que gastei muito trabalhando  
Plantando, regando e cuidando 
Para que outros me arrancassem a paixão

Concluí que a vida é o maior jardim a ser cultivado
Então não preciso procurar bulbos nem chão arado
Serei eu a maior cultura a ser preservada
Ninguém jamais me arrancará, senão o Amado

Vai ser assim de agora em diante
Deixar de ser amor e virar amante
Ser jardim para mim mesmo constante
Doutor, mestre, graduado, eterno estudante

Na minha vida só há lugar para meu amor:
Eu mesmo. Sim, Narciso é meu penhor 
Aprendi com a enchente no canteiro do desamor
Há um só Deus, mas o diabo quis ser senhor

Para que plantar flores, se a verdadeira beleza ninguém verá?
Para que ter jardins, se há desmatamentos de "a" morrerá?
Para que guardar bulbos, se já tenho o gancho do menorah?
Para que chover água, se meu deserto é que viverá?