segunda-feira, 15 de julho de 2013

Pânico


Se eu não receber um telefonema até meio dia, vou explodir! Boom! Boom! Boom!
Então, terei que botar a boca no trombone. Soon! Soon! Soon!
Desligado ou fora de área, enganando com Tum! Tum! Tum!
A linha da vida é curta, mas o fio da conversa é comprido. Sim! Sim! Sim!

Carro nunca foi segurança ou comforto. É apenas um ópio
Vai onde quer e transporta quem quiser. É a falsa saída do opróbio
Cada acelerada é o encurtamento da respiração. Torna-se o teu sócio
E naquela curva da grande Avenida, o fantasma aparece bem sóbrio

Já tive três veículos. Zerados! Todos foram momentos da paixão
O primeiro foi fruto do trabalho, cada centavo envolvido na missão
O segundo foi fruto do investimento, cada parcela a distante solidão
O terceiro foi fruto do estupidez, cada protesto denunciava a corrupção

Todos foram quitados sagradamente. Nenhum foi, enfim, "desvirtuado"
Vendi-os e apliquei em educação. Sou o fruto do favelado aperfeiçoado
Ando a pé. Sou do transporte público, mas haverei ainda compartilhado
Da sabedoria e do discernimento de que é possível ver sonho realizado

A tristeza é porque a superação da indignidade é processual   
Nada "cai do céu" como esperança senão a busca educacional
Foi o que me aconteceu: consegui a verbe titular magisterial
Só que o grau maior, você me fez perder. Sua contribuição foi letal


No princípio, o Norte foi minha direção. Significou-me a salvação
Lá, entendi a minha latinidade e venci os medos do povo saxão
Hoje, estou no Norte sem orientação. Sinto-me em meio à perdição
Aqui, compreendo a pecaminosidade, desafiando-me à missão

Estou aqui porque não posso estar lá. Sozinho jamais voltarei
Essa tem sido minha indecisão e angústia: perda que não superei
Por isso, até a saúde ignorei. Vou arriscar fugir para terra sem rei
Se serei doutor, não sei. Tempo me indicará o lugar em que vencerei

Vou te dizer com todas as letras: "Vá lá no quintal e veja teu pleito"
Teus súditos se envergonharão de ti, ó carruagem alva sem aceno
Já gravei tudo em diálogo celestial: nosso reencontro não será terreno
Eu não tenho glória senão a de fazer-te entender em tino leito

Resta-me isso: aceitar o pânico que vem soando há tempos
Sair, revolucionar-se, gritar minha independência através dos ventos
Sei que isso assusta a qualquer um: então ouça meus contrasensos
Morrerei para viver - anastasis e egeiro serão as nuances de consensos

Então só siga o exemplo do Mestre e diga assim: "eu ficarei contigo até o fim"