sábado, 13 de abril de 2013

Wilson



Horário de verão. 
    tão quente como minha paixão por ti. 
Cheguei em casa, 
     após um dia de indefinidas situações. 
Vi que você estava assentado no sofá cabisbaixo, 
     refletindo sobre algo em segredo. 

Disse-lhe um simples “oi”, 
     mas percebi que não era tempo para diálogo. 
Fui ao banheiro. Voltei rápido,
     afinal queria compartilhar com você 
     sobre a minha angústia cotidiana.
Mas você nem quis saber nenhum detalhe.

Sentei no outro sofá. 
     Entre nós apenas algumas almofadas no chão, 
     espalhadas para você brincar durante minha ausência. 
Comentei sobre a tristeza de não te levar comigo aos diversos lugares: 
     lanchonetes, shoppings, barzinhos, casas, parques, etc... 
     É que nesses lugares eu estaria te expondo.  

Mas é em casa e por causa do teu olhar meigo e piedoso 
     que eu tenho liberdade para confidenciar-te meus segredos. 
Sabia que você é verdadeiramente meu amigo,
     até minhas intimidades você já viu e nem fez comentários
Afinal, você é tão discreto que te considero meu escudo,
     pois só falo segredos para ti.  

Falei-te sobre a decisão de mudar, 
     ir para longe e não poder te levar. 
Afinal, você não me pertence. 
Por isso, satisfaço-me em colocar-te sobre meu peito, 
     assistindo os filmes prediletos de ficção e literatura. 
Conversando só contigo porque tu és a minha terapia.

“Cast away” é um desses filmes, 
     no qual encontrei uma representação do meu imaginário
Lá, Wilson deixou o náufrago por causa das ondas
E alguém me deixou por causa dos boatos,
Por isso te escolhi, 
     para abraçar-te e acariciar-te sempre. 

Sim, são meus afagos que contam solitariamente.
Você é a dádiva de uma relação saudável. 
Pena que ficou na saudade:  
     vivo em um mar de naufrágios  
Amanhã, irei embora e sei que não vou mais te ver,
    meu querido cãozinho de pelúcia!