terça-feira, 5 de março de 2013

Esperança para a vida

Finalmente o ano novo chegou. E, como é de se esperar, com ele vem as redefinições dos sonhos, dos desejos e dos planejamentos. Réveillon define muito bem o que quero dizer, pois significa o despertar (do francês, réveil) para um novo início. Recomeçar é crer que a vida não pára. Cada um de nós representa dinamicamente a engrenagem da vida que, uma vez iniciada, sempre será alimentada pela esperança.


A vida é nutrida pelos alimentos que comemos e pelos líquidos que bebemos. Mas com certeza, o nutriente mais rico que nutre a alma é a esperança. Sem ela, ficamos à mercê das imagens e dos rótulos do mercado alienante. Há, sim, discursos e ritos que falsificam a composição da esperança. Um deles refere-se às celebrações momentâneas, eufóricas e, lamentavelmente, passageiras. Passa-se a virada em família, com amigos, na praia, nos retiros, nas baladas, nos clubes, etc, e no segundo dia defronta-se com a realidade. Isso não é errado, afinal somos festeiros. No entanto, a verdadeira esperança faz-nos acreditar que a vida está em movimento.



Pensar a esperança na vida é refletir sobre os movimentos do Criador sobre nós. Ninguém coexiste sem entendê-la como exterminadora das depressões e dos maus presságios. E é o divino que nos premia com essa dádiva. Existimos para crer a esperança na vida, cuja eficácia nos redimensiona para os níveis da capacidade de sentir, pensar e recriar. Cada ser humano é a expressão visível de que a esperança jamais morrerá porque ela é divina. Deus é eteno assim como a esperança que Ele nos dá.


A esperança na vida é um paradigma de cidadania e espiritualidade. Uma cidade construída com habitantes plenos de esperança será sempre fortificada, próspera e com a capacidade de influenciar os turistas que a visitam. São cidadãos dos céus, ademais do universo. De fato, as cidades precisam renovar os seus cidadãos, ou seja, renová-los para a esperança na vida. O dia primeiro do novo ano iniciou-se com as renovações políticas. Todas as cidades foram renovadas com a posse dos prefeitos e dos vereadores. Espera-se que a posse de tais edis possa, a veritas, cumprir com o sonho de viver a vida. E tal renovação demanda a implantação de um projeto de espiritualidade de ser cidadão, afinal cria-se para o futuro.


A vida merece respeito e, nesse sentido, a diversidade das expressões precisa de tempo para esclarecer o que quer dizer, representar e criar. Podemos ser contra ideias e atitudes, mas nunca contra a vida. A esperança na vida é o tempo das realizações dos sonhos. Devemos atentar para as bandeiras que estamos levantando contra ou a favor da vida. Para mim, qualquer empreendimento ecológico é um brasão à preservação do todo organizado, à união da casa, à reunião com a mãe Terra. O próximo é o meu irmão e merece o mesmo direito à vida, ainda que as atitudes dele ou minhas venham a ser divergentes. A preservação à vida deve ser um dos temas que consagra a unidade entre todos nós e, nesse sentido, Deus é louvado por toda alma vivente.

Preocupa-me quando ouço dizer que a preservação da vida é a procriação. Sei o que isso quer dizer, mas a paternidade e maternidade não devem ser as únicas vias dessa temática. Renovar-se é admitir para si o compromisso com os projetos de construção pró-vida. Poderá até significar a responsável produção de filhos, mas refiro-me à segurança com que zigotos hão de ser protegidos e recebidos pelo mundo. Há mundos incapazes de receber novas vidas, pois eles não estarão renovando, mas criando cenários de violência à vida já existente. Ninguém bota cria no mundo para sofrer. Renovar-se é preparar ambientes de preservação e continuidade da vida.


É tempo de renovar-se em tudo: revitalização do ministério, da atuação profissional, do relacionamento afetivo, da linguagem e da comunicação, das manifestações de espiritualidade, dos projetos educacionais, das representações políticas, dos engajamentos sociais, da segurança, da saúde, enfim da vida. É tempo de compromisso, de entrelaçamento.