sexta-feira, 22 de março de 2013

Quero meu diploma!



É muito difícil construir-se como ser humano. É a tarefa mais complexa de se realizar. Nunca ninguém explicou porque bocejar em público é errado. Apenas dizem é "falta de educaçao". Só que ao observar alguém bocejando, imediatamente dá vontade de fazer o mesmo. A caminhada na construção do ser começa da mesma forma: imitação. Observamos os pais, irmãos, amigos, celebridades e, no instante seguinte, queremos fazer o mesmo.



Na caminhada cristã também ocorre o mesmo. Queremos imitar a Cristo. Não que isso seja impossível, é que o Espírito da verdade habita em nós e exige-nos a prática da autenticidade. Não é fácil ser autêntico perante a sociedade. Há muito mais para igualar-se às consequências da corrupção e ser próspero do que apenas desejar ser autêntico.

Autenticidade é um selo, uma chancela, um carimbo, colocado sobre um produto para afirmar que é verdadeiro. É o testemunho jurídico incontestável. Estudamos, mas é o diploma que outorga-nos ser verdadeiros. Ensinamos, mas é o certificado que diz sermos qualificados para tal. Votamos, mas é o título eleitoral que nos concede esse privilégio. Casamos, mas é a Certidão de Nascimento e o Registro Geral Civil que nos alega sermos isentos de concubinato. Viajamos ao exterior, mas é o passaporte que diz pertencermos ao Brasil... Na construção do nosso ser, o diploma é a vida de autenticidade. Erramos porque não sabemos como ser construídos com a verdade. E, maliciosamente, exigimos que nos concedam diplomas.

É por isso que a experiência de conversão torna-se inócua diante de tantos arquétipos da falsidade, mentira e corrupção. A própria casta dos santos e justos casou-se com a casta dos impuros e injustos. A igreja se tornou um fim em si mesma, com tipologias de comportamento embalados: o cliente chega e o kit de espiritualidade é entregue. Na política é idêntico processo: bons congressistas são eleitos, e no momento em que chegam ao Templo da Injustiça, passam pelo rito de desconversão.

A prova de que a autenticidade existe em nós é quando passamos por crises. Às vezes contornando-as e, muitas vezes, vencendo-as. É quando vemos que o sofrimento não nos fez perder a essência de viver, isto é, não nos corrompeu. Em verdade, deixou-nos mais sensíveis à possibilidade de transformação.

Ser autêntico significa assumir as consequências. Uma mãe ou pai, que revoltam-se contra Deus porque o filho foi vítima de algum embriagado ao volante não estão sendo fracos na fé. Estão sendo autênticos. E uma família que teve a filha estuprada e assassinada por um delinquente e, tempos depois, chega a perdoar o malfeitor não é porque é o "correto" a fazer, mas porque entenderam que estão sendo verdadeiros consigo mesmos. A atitude de ser verdadeiro é o poder de transformação em qualquer sociedade caída.

Esse é o dilema atual da integridade humana: o medo de ser autêntica. Reprime-se a sexualidade, perverte-se o direito, ama-se a injustiça, incentiva-se à guerra, manipula-se os interesses, sublima-se as paixões, vende-se o corpo e vicia-se nos prazeres. Não precisamos de provas para dizer que alguém "faltou com a verdade" - a própria construção do processo revelará a falsa integridade.

A comunhão dos santos deveria ser um local para se visualizar a autenticidade. As liturgias, principalmente as litanias de confissão, deveriam ser o momento do indivíduo provar da experiência de ser verdadeiro consigo e comunitariamente. As reuniões de oração - essas, sim, não sabem ainda que locam o poder da transformação pessoal - deveriam ser sessões autênticas de terapia conversacional. E os cursos de evangelismo e discipulado deveriam ser para a construção da vida integral.

É por isso que não existe diferença entre vida espiritual e carnal (alguns dizem secular). Já é uma dicotomia contra a própria autenticidade. Não vale a premissa "estou em paz com Deus, mas não quero conversa com aquele irmão". Quando somos dominados pelo Espírito da verdade, todo o nosso ser muda diante de cada nova situação, buscando sempre o exercício da autenticidade. É por isso que muitas pessoas sentem-se livres diante de psicólogos, psiquiatras e psicanalistas, no entanto, fogem dos pastores, padres e familiares. Qualquer conflito de sofrimento, principalmente os emocionais, é facilmente resolvido porque a verdade (sinceridade) é o princípio da cura.

Perder o selo de autenticidade é dar ínício à morte do ser. Corromper-se é falhar diante de situações de uso da verdade, tais como: sentimentos, temperamentos, comportamentos, habilidades, profissão, ministério e vida. É, mais ainda, aliar-se com os que já foram manchados pela mentira - é um ato de covardia consigo mesmo.

Através do trabalho salvífico de Cristo, a autenticidade se tornou uma possibilidade de realização. A cruz é o diploma dessa atitude. O Espírito em nós é a garantia da verdade.