Estávamos em três. Duas irmãs, de sete e nove anos. E eu, bom, vamos esquecer!
No parque, rede das bandeiras. Muitos brinquedos, radicais, de medo, de estarrecer
Elas, meninas, ainda não têm o profundo saber do que é participar do risco de ser
Não são os brinquedos o meu receio. É o sentimento frio de deixar de se pertencer
Isso aconteceu no Sky Climb, simulador do equilíbrio no ar. É desesperador!
Há três níveis, nos quais faz-se a rota das dificuldades. Foi nos ares que senti a dor
Vi diferente, chão não presente, intermitente. Avancei, quase morri. Meu torpor!
Ar gélido e vertiginoso foi o que constatei. Voltei. Refleti. Arrepio senti. Que calor!
Outros pueris passavam por mim, totalmente desprovidos de qualquer obstáculo
Não se equilibravam, flutuavam. Eram dançarinos do ar. Acima de mim, um espetáculo
O firmamento límpido, claro, brisa de verão - nada chato. Verdadeiro cenáculo
E lá no alto, último nível, a irmã mais velha, tão pequena, ocupando o susto vácuo
Senti-me desafiado por inteiro. Tinha que enterrar ligeiro a sentença do complexo
Aquela que disse-me ser incapaz, impossível de liberar tensões de vétero nexo
Subi ao último nível, igual a ela. Mais reservado, confesso. Trêmulo quase genuflexo
Atei-me sempre no gancho-teto. Mais confiante, corajoso, mostrando vaidoso amplexo
Ao descer, constatei que é nas alturas, a de finas estutruras, onde habitam os temores
Só a consciência é que revela ao Divino o porquê esconder os reais horrorres
Fiquei feliz, não porque me revelei, mas porque me aliviei da síndrome de condores
Cobri-me de sorriso, agora solto... Superar é divertir-se na alma - teatro em cores!
