domingo, 24 de março de 2013

Jardineiro sem canteiro


No meu jardim, cultivei um canteiro especial para ti. 
Adubei e preparei com todo carinho aquele pedaço de terra. 
Fiz dele um lugar sagrado: meditava e buscava inspiração 
para ser transcendente. 
Não economizei dinheiro, horas de trabalho e atenção.

Quando você chegou, apenas reguei e alimentei com meu amor. 

Cuidar de ti era a experiência mais gratificante de ser jardineiro. 
Minhas mãos e meus pensamentos se refaziam dia-a-dia ao te ver e tocar. 
Eu havia chegado à maturidade e ao regozigo de ser feliz. 
Agora eu seria eternamente teu.

Um dia você quis olhar para outro jardim. 

Disse-me que lá a grama é mais verde, o chão mais rico, 
o jardineiro mais formoso e as companhias mais desejáveis. 
Deixei você ir. Amar é nunca prender, sempre deixar a liberdade viva 
e presente para o encanto do reencontro.

Então decidi destruir meu jardim. 
Não queria me apaixonar mais. 

Destruir jardins não é acabar com o amor, é evitar as oportunidades de más intenções. 
Eu ainda te amo, e respeito tua escolha: esse novo jardim é tua fantasia. 
Só lamento que, após cada dia de distância, a velhice está se aproximando 
e possivelmente não haverá mais chão fecundo.

Hoje, sou eu quem preciso de cuidado. 

Preciso ser regado e adubado. Preciso de ti. 
Não deixei de ser jardineiro, deixei de cultivar o teu amor.


(Obs: Construído em prosa)