sexta-feira, 22 de março de 2013

Janela para abrir, vida para surgir



Estou só, sem ninguém no momento. Busco mais solidão no quarto dos mementos
Lá, preso ao nó, aquém do movimento. É pura ilusão de um parto de sofrimentos
Sou como pó além do pavimento. Há, sim, no coração o enfarto dos entupimentos
É o dó de alguém estar no esquecimento. Sequidão como descarto os lamentos

Sem ser a porta, só a janela é minha fuga em situação afligida
Bem que se comporta nela tem mancha suja pela lição não aprendida
Vem a luz e aborda em sentinela, e se aluga em emoção fingida
Revela pintura morta em aquarela de minha luta comoção sentida

É que você foi embora. Sobrou a rosa vermelha em cima da cama vazia
Quatro pétalas sem orla, em tosa, figuram junto à minha orelha. Fama que jazia
É a única flor da hora prestada em prosa da centelha – a chama ainda ardia
Viro-me sem demora, ação corajosa, magia sortelha da trama agora tardia

Preciso de luz, porque sinto que estou tornando-me obscuro no entendimento
Preciso de calor, pois estou congelando-me. Não procuro o teu aquecimento
Preciso de ar, pois estou sufocando-me. Sendo inseguro com o envelhecimento
Preciso de espaço, porque estou crescendo-me. Não aturo o encolhimento

Só tenho uma solução: abrir a janela. E após ela te encontrar
Que pena! Sou sem noção. É como partir em quimera. Só prantear
Vou manter a projeção. Quando o sol vir até ela, irei acordar
Só espero que meu coração aguente no porvir da cinderela a celebrar

Abrir a janela é como ter olhos para alma: mente e coração se entendem
É ver a si mesmo pronto e com calma: sente-se que a emoção também aprende
Que a vida é descrita na palma: as nervuras dão atenção à verdade bem crente
É preciso empurrar a amálgama da vida com determinação solvente

Tenho receio. Não sei o que vou encontrar. Só o tempo para me curar
Amigos do meio tentam me ajudar, com senso e experiência para me sarar
É o freio do meu trabalhar e pensar. É o sustento do meu ente a amar
Por isso creio que hei de superar, sendo terno e ciente a perseverar

Sim, eu irei abrí-la, mas não revelarei o momento. Será uma aventura
Pois serei eu mesmo o colibri desse evento. Voarei com brandura
À janela eu surgirei soberano como sol 
e assento. Terei nova postura
Serei novo homem com um novo alento. Estarei com conhecida figura