segunda-feira, 11 de março de 2013

Luto por cidadania, mas estou de luto pelos direitos humanos






Sou cristão. Não preciso de nenhuma outra identificação: evangélica, católica, pós-denominacionalista, ecumênica, etc. Preciso, e devo, explicitar o que penso sobre o momento de reviravoltas na Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM). Quero, apenas, descrever meu raciocínio em duas sínteses: 

1. Gostaria que o membro da CDHM entenda que a complexidade e os desafios de reorganização cultural existentes na cultura brasileira são lacunas para a atuação de vários segmentos sociais cujo trabalho deve ser o de educar para a cidadania.

2. Gostaria que o membro da CDHM adote comportamentos de humildade para com a opinião pública, de diálogo constante com as demais representações sociais, de ser estudioso das relações humanas, e de ser educador brasileiro. 

Como cristão, poderia indicar muitos "candidatos qualificados" para assumir esse cargo. Não vejo no Deputado Marco Feliciano estas qualidades e faço minhas justificativas pelas seguintes razões:

- em setembro de 2011, havia visto um vídeo em que ele afirmava a “África amaldiçoada de fome, aids, guerra, etc”. Na época, estava nos EUA e, como cidadão, escrevi para o gabinete dele em Brasília, esclarecendo-o sobre a exegese do texto de Gênesis que narrava sobre os descendentes dos filhos de Noé. NUNCA RECEBI RESPOSTA. 
- a atitude dele não é de pastor, nem das referências bíblicas e muito menos das denominações. Ser pastor é cuidar de vidas, é proporcionar às ovelhas o encontro com o Salvador. Nenhum pastor advoga discursos de exclusão, senão cairá no legalismo e se tornará “juiz”. 
- por uma analogia linguística, deve-se entender “direitos humanos” como o “decreto divino para as nações”. Então, ser pastor (ou deputado) é ser intérprete desse princípio.
- também no meio cristão, “minorias” é o termo correlato bíblico para “pobre, estrangeiro, pequenino, etc”. Então, ser pastor (ou deputado) é “ficar ao lado de” e servir de aprisco para as minorias.

Geralmente, em ambientes essencialmente cristãos, quando há um “furdunço” com um líder religioso, espera-se duas atitudes. A primeira é que ele se retire do cenário e não fique à frente dos “ânimos acirrados”. Essa atitude é louvável porque revela um espírito humilde, de servo consciente da responsabilidade perante a comunidade. A segunda é feita pelos demais líderes porque enxergam além do próprio líder (epíscopos = têm a visão de cima) e solicitam a retirada dele. Essa é louvável também, só que revelará a insubmissão do líder, pois “não curvará a cerviz”. 

Diante disso, chego às conclusões: 

1. Em política, aprendemos que o poder é a força desejável pelo líder. Em certo sentido, Feliciano tem dois tipos de poder “carismáticos” aferidos: o de pastor e o de deputado. Percebe-se que ele tem exercido ambos pela coerção dos liderados – é o líder-presidente. 
2. Estudando o fenômeno religioso, posso dizer que ele não sairá da presidência da CDHM – não é questão de humildade e nem de direito, afinal ele foi eleito “secretamente” pelos demais. Trata-se de interesses marcadamente econômicos e políticos cujas consequências jamais serão conhecidas por nós. 
3. Os bastidores eclesiásticos não são diferentes da política brasileira. As igrejas e comunidades refletem o mesmo sistema para a tomada de decisões existentes no Senado e Congresso Nacional. O fato é que Feliciano não percebeu que esta comissão não é a da Convenção de sua denominação – ela está “às claras” para todo o mundo ver. 

Minhas orientação é que ele cedesse à pressão pública – o que é louvável – para, inclusive, provar a real intencionalidade de suas afirmações. Em teologia, a reprovação do (pastor pelo) povo é a voz de Deus!

Já assinei duas "petições" para que ele deixe a liderança dessa comissão. No entanto, o senso de democracia já foi contaminado pelo da demagogia: "vai dar em pizza". Como cristão, oro por uma epifania ou por uma teofania - porque a apocalíptica nós fazemos!